A vida cultural no Recife

Lucia Lippi Oliveira
2008 História, Ciências, Saúde: Manguinhos  
U m importante e fecundo panorama da vida cultural do Recife no período da redemocratização, após a ditadura do Estado Novo, é apresentado nesse livro, originalmente tese de doutorado do autor. Flávio Teixeira nos lembra que o Recife nasceu porto e teve o virtual monopólio da circulação da produção de açúcar até meados do século XVII. Quando perde essa posição, passa a crescer pouco e devagar. No século XIX, volta a ter importância relativa quando cresce a produção de algodão e a cidade
more » ... centro abastecedor do mercado interno. No início do século XX Recife lutava para desfrutar da posição de centro hegemônico regional e implantar um projeto de modernidade expresso em mudanças urbanas típicas de belle époque. Vale lembrar que a reforma urbana no Rio de Janeiro e, antes, a construção de Belo Horizonte tinham o mesmo objetivo, a modernização da República. A desarticulação da economia de subsistência, desde a década de 1890, com as mudanças econômicas derivadas da industrialização na produção do açúcar, só fez aumentar a massa dos despossuídos que migravam da Zona da Mata para o Recife. A cidade, fundada sobre um espaço recortado por rios e alagados, deixara suas margens e mangues para aqueles que nada tinham. Assim foram-se formando os mocambos, forma de viver e morar carregada de estigmas, para onde se dirigiam os novos excluídos. Os mocambos do Recife são tão famosos quanto as favelas do Rio de Janeiro. Os mocambos cresceram, independentemente da existência ou não de políticas de combate à ocupação desordenada. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, Teixeira menciona que, entre 1940 e 1950, o crescimento da população da cidade foi de 50% e entre 1950 e 1960, de 170%, crescimento esse não acompanhado pela produção agrícola ou industrial. A conseqüência direta foi o aumento da tensão, principalmente no período democrático (1945)(1946)(1947)(1948)(1949)(1950)(1951)(1952)(1953)(1954)(1955)(1956)(1957)(1958)(1959)(1960)(1961)(1962)(1963)(1964), quando o voto se tornou moeda corrente para os políticos conquistarem eleitores. Assim, a penetração do movimento comunista nesse espaço social, o papel e a posição do Nordeste na industrialização e modernização nacionais e o crescimento do conflito agrário e da tensão política a ele associada configuram o cenário a ser levado em conta.
doi:10.1590/s0104-59702008000400018 fatcat:wdj5spplzffb3pijovwjcwiv2u