Novas formas de poder e controle nas organizações
Ana Paula Paes de Paula
2005
RAE: Revista de Administração de Empresas
Composta por três volumes, a mais recente obra de José Henrique de Faria, Economia política do poder, é fruto de 25 anos de pesquisa e reflexão. O título talvez não remeta o leitor diretamente para questões da esfera dos estudos organizacionais, mas o conteúdo traz uma densa e sólida discussão sobre as relações de poder nas organizações sob uma perspectiva crítica. Inspirado pela teoria crítica frankfurtiana, o autor procura fundar uma linha de pensamento por ele denominada economia política do
more »
... poder, uma concepção interdisciplinar do estudo do poder nas organizações que abrange as ciências econômicas, as ciências sociais, a história e a psicossociologia. A exemplo dos marxistas ocidentais, Faria se vale das noções de estrutura e superestrutura para avaliar como operam as instâncias manifestas (regramento e estruturas) e ocultas (relações subjetivas e inconsciente individual) nas configurações de poder e controle das organizações. A publicação é bem-vinda, pois são poucos os trabalhos que exploram os estudos organizacionais sob uma perspectiva marxista. Na atual valorização de estudos de orientação pósmoderna, o marxismo costuma ser apontado como uma grande narrativa e vem ocupando uma posição cada vez mais marginal. As perdas não poderiam ser maiores, pois juntamente com o marxismo relega-se o potencial de crítica e análise presente no método dialético e nas elaborações de vários autores que o professam. Dessa forma, mais do que valorizar o embate entre modernismo e pós-modernismo, os estudiosos das organizações deveriam optar por uma posição mais heterodoxa e buscar articular as contribuições presentes nas diversas correntes de pensamento. O resgate de autores como Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Walter Benjamin revela que estes anteciparam em décadas as preocupações que hoje circundam os pós-modernos, apontan-do caminhos para começar um diálogo entre as diversas vertentes. Os volumes que compõem a obra de José Henrique Faria podem ser tomados separadamente, mas somente a leitura completa trará ao leitor a verdadeira dimensão do trabalho realizado pelo autor. No primeiro volume, identificado pelo subtítulo "Fundamentos", Faria procura delinear as bases epistemológicas e teóricas da economia política do poder, explorando o arcabouço que circunda o poder e o controle nas organizações sociais, por meio da discussão de questões que sustentam o pensamento marxista, tais como a organização e a divisão do trabalho, a exploração do trabalho, os processos de trabalho e de valorização, o processo de acumulação de capital e as tecnologias físicas e de gestão. Em seguida, Faria faz uso da dialética para discutir o contexto político e sócio-histórico no qual as relações no mundo contemporâneo se desdobram. O autor resgata os con-
doi:10.1590/s0034-75902005000300009
fatcat:gqszjtw62vapxmdljddiy3p2gi