Radioiodo como terapia adjuvante em pacientes com carcinoma medular de tireóide
Pedro Weslley S. Rosário, Tales Alvarenga Fagundes
2004
Arquivos brasileiros de endocrinologia e metabologia
C ÉLULAS PARAFOLICULARES, que originam o carcinoma medular de tireóide (CMT), não captam iodo. No entanto, as células residuais em leito tireoideano após a tireoidectomia encontram-se em proximidade com células foliculares normais, iodocaptantes. Isto, somado ao alcance de 2mm da radiação beta, fundamentam a idéia de "radiação por contiguidade" para o CMT residual ou recorrente em leito tireoideano. As células foliculares normais captam o iodo 131 (I-131) e a radiação beta emitida alcançaria as
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... células parafoliculares malignas próximas. Relato um caso que atendi, procedente de outro serviço de uma cidade do interior, para continuar o acompanhamento. Trata-se de uma paciente de 52 anos, que tinha um nódulo único à palpação de 3,5cm em lobo direito da tireóide, e a PAAF mostrou CMT. Foi submetida à tireoidectomia total com esvaziamento ganglionar cervical e o anatomopatológico confirmou o diagnóstico de CMT com metástases linfonodais. A imuno-histoquímica foi positiva para calcitonina (CT) e negativa para tireoglobulina (Tg). A CT sérica pré-operatória era de 642pg/ml. Seis meses após a cirurgia, permanecia elevada (890pg/ml), mas o exame clínico e métodos de imagem não revelaram metástases. US cervical, TC de tórax e abdome, pesquisa de corpo inteiro (PCI) com 99mTc-Sestamibi e 201-Tl (tálio) foram normais. Não foram realizadas imagens com 99mTc-DMSA pentavalente ou Octreotide. A PCI com I-131 mostrou uma captação em leito tireoideano de 2,5%. Dois meses depois, a paciente foi submetida à radioiodoterapia com 150mCi e a PCI pós-dose confirmou o achado do exame anterior. Com 3, 6, 9 e 12 meses (aproximadamente) depois do radioiodo, os níveis de CT não apresentaram queda: 786, 976, 1033, 875pg/ml, respectivamente. A repetição da mesma propedêutica um ano depois da terapia ablativa, quando a paciente passou a ser acompanhada por mim, permaneceu não revelando metástases, e a PCI com I-131 foi negativa, inclusive para restos tireoideanos. Apesar da proximidade das células foliculares normais com os focos de carcinoma medular que podem permanecer em leito tireoideano após a tireoidectomia, ser suficiente para que a radiação beta alcance por contigüidade estes focos, a radioiodoterapia não tem demonstrado resultado em pacientes com CMT puro, como neste caso. Resultados favoráveis são apresentados apenas como casos isolados (1,2) ou no carcinoma misto medular-folicular (3), que pode ser erroneamente diagnosticado como medular puro; não havendo estudos comparativos (entre tratados e não tratados) que confirmem o benefício do radioiodo no CMT puro. Ao contrário, os estudos mostram que não há diferença na taxa de recorrência, no aparecimento de metástases e na mortalidade entre pacientes tratados ou não com radioiodoterapia pós-operatória (4-6), que também não se mostrou eficaz em reduzir os níveis séricos de CT (4,7). Um possível benefício na taxa de recorrência nos casos sem hipercalcitoninemia pós-operatória sugerido por um destes estudos (7) pode ser contestado pelo curto tempo de seguimento (2 anos) e pela ausência de comparação com
doi:10.1590/s0004-27302004000600021
pmid:15761569
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