Intelectuais, conhecimento e espaço público

Francisco de Oliveira
2001 Revista Brasileira de Educação  
Conferência de abertura da 24ª Reunião Anual da ANPEd É com enorme satisfação e ao mesmo tempo enorme responsabilidade que venho falar para este auditório formado pelos que lutam pela educação no Brasil. Meus parabéns a ANPEd pelos seus 25 anos! É uma senhora jovem ainda. Meus parabéns por essa festa, que é a 24ª Reunião Anual da Associação. Entre amigos se cometem sempre exageros. Portanto, um primeiro conselho, dado por um grande especialista na alma humana. Não vou citar nenhum dos nossos
more » ... ssicos, mas Groucho Marx: "Duvidem do clube que os acolhe como sócios." Portanto, duvidem muito dos elogios entre amigos. Com isso quero dizer que me honra muito estar entre vocês e poder ajudar nesta luta travada cotidianamente. E espero diminuir um pouco as expectativas a respeito desta conferência. É extremamente difícil tratar o tema dessa relação que é reciprocamente fundadora: Intelectuais, conhecimento e espaço público. Na verdade, eles nascem juntos. O intelectual moderno constrói-se naquele momento em que Weber chamou de desencantamento do mundo, desligado dos mecanismos tradicionais da dominação e do poder, sobretudo da Igreja e do Estado. Não é mais uma extensão da Igreja, nem do Esta-do. Ergue-se exatamente nessa transição e com ele surgem, ao mesmo tempo, não se podendo dizer quem veio primeiro, a tarefa do intelectual e o seu campo de atuação: o campo do conhecimento. Tudo isso ocorre mediante uma operação em que se desprivatiza o espaço. O espaço passa a ser um lugar público, lugar eficaz para a operação do novo modo de ser da sociedade. O intelectual é, portanto, este agente que, neste momento, descola-se dos antigos aparelhos e das antigas formas de dominação, e surge autônomo. Não importa se na história mais concreta muitos intelectuais estiveram a serviço do poder; tomemos o mais emblemático deles, talvez o fundador do intelectual moderno: Maquiavel, conhecido por sua obra clássica, O Príncipe. Esta parece ser uma obra destinada a dar conselhos aos príncipes. Tratar-se-ia, portanto, de alguém que nega, exatamente no momento de sua criação, o espaço público e sua independência. Mas, para os que conhecem melhor a obra, o conselho de Maquiavel é para a República. Ele afirma, pois, o espaço público. Este é o momento fundador desta relação profícua. Seria tolice dizer que os séculos anteriores foram
doi:10.1590/s1413-24782001000300013 fatcat:2khvghgdnrbj7c5bwisumwwzyq