Narrativa da memória epopéia paulista
Alecsandra M. de Oliveira, Elza Ajzenberg
2008
ARS
O presente estudo aborda as relações existentes entre a memória e a arte, especialmente, a arte contemporânea, registrada através de monumentos arquitetônicos na cidade de São Paulo. Para tanto, elege como instrumental de pesquisa a história da arte e seus desdobramentos estéticos, tendo como foco de análise a poética de memórias de Maria Bonomi -uma das mais importantes artistas da contemporaneidade brasileira. O painel "Epopéia Paulista" --construído a partir de ateliê-residência, ocorrido em
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... abril de 2004 no espaço expositivo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) e que hoje se encontra no corredor de ligação entre o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (na Estação da Luz) --serviu como obra-referência na criação e no processo de narrativas de memórias de diversas etnias em São Paulo. Até o advento da escrita, a memória poderia extirpar-se com a morte do indivíduo. A nova forma de registro provocou uma revolução no que tange ao conhecimento humano. A partir da escrita o homem pôde perpetuar fragmentos da memória. Tornou-se factível falar aos outros mesmo após a morte física 1 . A memória, então, pode ser compreendida como a capacidade do indivíduo de conseguir conservar e retomar certas informações ou impressões do passado. Essa conceituação geralmente é utilizada em disciplinas como a psicofisiologia, a neurofisiologia, a biologia e a psiquiatria que estudam a memória como fenômeno individual, condicionado aos aspectos biológicos do ser humano. Porém, para teóricos de outras disciplinas, a perspectiva biológica da memória restringe as diversas leituras possíveis do fenômeno 2 . A memória deve ser percebida como algo inserido na vida social e coletiva. A partir dessa concepção, as ciências humanas passam a ganhar destaque nos estudos sobre o tema. Para Le Goff, renomado historiador francês, a memória é um comportamento narrativo que tem em seu cerne a função social de comunicar a outras pessoas informações e impressões ocorridas no passado e que não estão no presente em sua forma original 3 . Essa concepção remete-se ao pensamento grego para o qual a memória é responsável pela transmissão dos costumes e tradições. Para os gregos, por exemplo, a memória do poeta reconstrói e transmite o passado às próximas gerações. Desse modo, a memória é sagrada e privilégio de alguns homens. A memória do poeta inspirado é onisciente de caráter adivinhatório, permitindo o acesso direto aos acontecimentos que evoca. Possibilita o contato com o mundo dos deuses e vislumbra o presente eterno. A memória do poeta é uma potência religiosa e
doi:10.1590/s1678-53202008000100005
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