IMITAÇÃO E MELODIA 1

Jean-Jacques Rousseau, Tradução André, Souza Silva
unpublished
Imitação. S.f. A música dramática ou teatral recorre à imitação assim como a poesia e pintura o fazem: é a este princípio comum que se referem todas as belas-artes, como o mostrou o senhor Batteux. Mas esta imitação não tem para todas a mesma importância.Tudo o que a imaginação pode se representar é do âmbito da poesia.A pintura , que não oferece de forma alguma figuras à imaginação , mas ao sentido e a um único sentido, não pinta senão objetos submetidos à vista.A música pareceria ter os
more » ... limites em relação ao ouvido: no entanto, ela pinta tudo, mesmo os objetos que são somente vizíveis: por uma ilusão 2 [ prestige] quase inconcebível , ela parece colocar o olho no ouvido, e a maior maravilha de uma arte que não age senão pelo movimento é de poder formar até mesmo a imagem do repouso.A noite, o sono, a solidão e o silêncio entram no número das grandes figuras da música.Sabe-se que o ruído pode produzir o efeito do silêncio, e o silêncio o efeito do ruído; como quando se adormece numa leitura maçante e monótona e que se desperta no instante que ela cessa.Mas a música age mais intimamente sobre nós excitando, por um sentido , afecções semelhantes àquelas que se pode excitar por um outro e como a relação só pode ser sensível para que a impressão seja forte, a pintura livre desta força não pode dar à música as imitações que esta tira dela.Mesmo que toda a natureza esteja dormindo , aquele que a contempla não dorme , e a arte do músico consiste 1 Os verbetes aqui traduzidos pertencem ao Dictionnaire de musique [ Dicionário de música],obra de caráter musicológico, na qual há as principais reflexões rousseaunianas sobre a música.Utilizamos aqui um exemplar fac-símile do livro: Dictionnaire de musique.Paris: Duchesne,1768. * Mestrando do Departamento de Filosofia da USP. Quero prestar aqui meus agradecimentos ao Prof.Dr.Victor Knoll (USP) pela leitura atenta da tradução, pelas sugestões e pelo estímulo sempre presente. 2 Aqui Rousseau alude ao fato de a música ter uma "capacidade mágica" capaz de criar ilusões típicas de um prestidigitador (N.da T.).
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