NOIVA, DE RENATO REZENDE

Allex Leila
2006 Via Atlântica  
N ascido em 1964, Renato Rezende é autor de Aura (1997), Passeio (2001) e Ímpar (2005). Em Noiva, confirma uma tendência da poesia contemporânea brasileira de evitar publicações que funcionem como reunião de poemas autônomos, próximos ao formato a que denominamos "antologia". Conscientemente, há um gesto-vontade de trabalhar com corpos-poemas, mostrando que existe uma ligação entre eles através não de uma unidade, mas de ecos de imagens e ideias estilhaçadas. Não se trata de uma tendência de
more » ... orno à unidade perdida, e, sim, de um desejo de parir livros recheados de poemaspartículas, como num aglomerado de bolhas que não chegam a formar necessariamente uma totalidade, antes disso, formam um mosaico de sequências, cortes e retomadas, interrelacionando-se até mesmo nos espaços vazios entre um verso e outro. Logo na orelha do livro, Claudia Roquette-Pinto (outra poeta contemporânea bastante singular) comenta sobre a impossibilidade de classificarmos em definitivo o trabalho poético de Rezende como "prosa, poesia, diário, depoimento ou qualquer outra modalidade literária". Ela faz alusão ao Livro do desassossego, de Bernardo Soares/Fernando Pessoa, expondo uma das camadas intertextuais mais bem resolvidas de Noiva. Poderíamos continuar propondo comparações entre os vôos de Renato Rezende e os trânsitos entre os diversos gêneros e temas performatizados por Baudelaire, Rimbaud, Sylvia Plath, Ana Cristina César, entre tantos outros criadores que, assim, esgarçaram cada vez mais as fronteiras entre os gêneros e a linguagem tradicionalmente literária. Todavia, o exercício de aproximar autores é também um exercício imaginativo do leitor, que constrói seus planos de leitura, suas camadas de percepção e interrelação com o que lê/vive. Tenham ou não tenham os autores lidos se-Via Atlantica15.indd 313
doi:10.11606/va.v0i15.50442 fatcat:26szvibu5rhu5karytfwymfrqi