[Depoimento] Memória de sala de aula

Vera Casa Nova
2016 Matraga  
Escrever para lembrar? Não para me lembrar, mas para combater a dilaceração do esquecimento na medida em que ele se anuncia como absoluto... (Roland Barthes) do Carmo Pandolfo. Mulheres da literatura com que me deparei durante minha vida acadêmica, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Hoje presto minha homenagem a quem me ensinou Literatura Brasileira, lições de literatura e de vida: Dirce Côrtes Riedel. Dirce foi minha professora na UEG (hoje, UERJ), Faculdade de Letras, ali na rua Haddock
more » ... bo, em 1967 e1968. Anos turbulentos. Entrava em sala uma baixinha miúda, com voz forte, sorriso no canto da boca, falando de Machado de Assis. Como ninguém, ia desfiando crítico a crítico, mostrando um aspecto ou outro na abordagem da obra de Machado. Era uma paixão que deixava rastros em seus alunos. Lembro de Ivan Proença, Lucia Helena entre outros tantos que assistiam com entusiasmo suas aulas, com suas análises instigantes. Como ler o texto literário? Essa pergunta durante muitos anos foi meu leitmotiv em sala de aula. Pergunta que sempre me remetia à obra teórica de Roland Barthes e que me foi apresentado por Dirce através do livro Elementos de Semiologia. Mas havia o New criticism, o formalismo russo, o Círculo Linguístico de Praga, Georg Luckács. As teorias eram indicadas para que pudéssemos ler melhor os autores brasileiros. Dirce, além de professora, era uma intelectual, uma pensadora e se dava como tarefa ver o seu tempo. Com os olhos sobre a História inquietava-se em ver o que a ditadura militar nesses anos de 1960 tinha
doi:10.12957/matraga.2016.26025 fatcat:5e5c5btd5rbfllt6nxuyjo3gvy