Saúde dos enfermeiros: presentismo e stress no trabalho [unknown]

Nursing is a stressful profession due to work overload, emotional demands, shift work, interaction with patients and other professionals, with consequences on nurses' health and on the quality of care. The current job demands and the world of work, combined with the socio-economic crisis, changed absenteeism patterns, leading nurses to work even sick, a phenomenon defined as presenteeism. This study aims to identify the levels of presenteeism and job stress among nurses, as well as to verify if
more » ... stress is a predictor of presentism. The sample was composed of 340 Portuguese nurses, who fulfilled the Nursing Stress Scale, the Stanford Presenteeism Scale, and a demographic occupational questionnaire. It was found that 73% of nurses considered their job as stressful and presented moderate levels of job stress, especially related to workload and death management. We found high levels of presentism, highest on the dimension work completed, suggesting effective work capacity even when nurses were sick. It was also found that 14% of presentism is explained by the sources of stress, being essential to establish human resource management policies to prevent stress and presentism, whose consequences have an impact in health institutions. Resumo: A Enfermagem é uma profissão stressante devido à sobrecarga de trabalho, exigências emocionais, trabalho por turnos, interação com utentes e outros profissionais, com consequências na saúde dos enfermeiros e na qualidade dos cuidados prestados. As exigências laborais atuais e o mundo do trabalho, aliadas à crise socioeconómica, alteraram os padrões de absentismo, fazendo os enfermeiros trabalhar mesmo doentes, fenómeno definido como presentismo. Pretendem-se conhecer os níveis de presentismo e de stress no trabalho em enfermeiros, bem como verificar se o stress constitui um preditor do presentismo. A amostra foi composta por 340 enfermeiros portugueses, que preencheram a Nursing Stress Scale, a Stanford Presenteeism Scale e um questionário de caracterização sociodemográfica e laboral. Verificou-se que 73% dos enfermeiros considera o seu trabalho stressante e encontraram-se níveis moderados de stress no trabalho, sobretudo relacionados com a sobrecarga de trabalho e gestão da morte. Existem elevados níveis de presentismo, superiores na dimensão trabalho completado, sugerindo capacidade de trabalho eficaz mesmo estando os enfermeiros doentes. Verificou-se ainda que 14% do presentismo é explicado pelas fontes de stress, sendo essencial estabelecer políticas de gestão de recursos humanos que previnam o stress e o presentismo, cujas consequências se repercutem nas instituições de saúde. Palavras-chave: Presentismo, Stress no trabalho, Enfermeiros, Estudo correlacional. Introdução Considerados os principais cuidadores na área da saúde, os enfermeiros desempenham um papel fundamental na sua instituição de trabalho, sendo os profissionais que mais frequente e longamente contactam com os doentes e seus familiares. Em Portugal, o número de enfermeiros no ativo, inscritos na Ordem dos Enfermeiros, era de 73912 até 31 de dezembro (2018a), verificando-se um constante crescimento ao longo dos anos. Reconhecida como uma das áreas profissionais onde se registam elevados níveis de stress associados ao ambiente laboral, os enfermeiros estão sujeitos a riscos psicossociais com efeitos a nível psicológico, físico e social, decorrentes de fatores como sobrecarga de trabalho, horários por turnos, interação e conflitos com outros profissionais e exigências emocionais inerentes ao contacto com os pacientes (Hermansyah & Riyadi, 2019; McVitar, 2003; Tao et al., 2018; Waddill-Goad, 2019) . Nos últimos anos a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA, 2017a) tem vindo a alertar que cerca de metade dos trabalhadores europeus considera o stress como uma situação comum no local de trabalho e que os seus efeitos negativos incluem a subida de taxas de acidentes e lesões, o aumento do absentismo e do presentismo. Assim, compreender o fenómeno do presentismo revela-se essencial na área da saúde, no sentido em que uma diminuição no desempenho pode aumentar a taxa de erros no tratamento e afetar os resultados e segurança do paciente (Martinez & Ferreira, 2011) . O presentismo é, neste âmbito, um fenómeno cada vez mais abordado no contexto atual dos enfermeiros, consequência do impacto que provoca nas organizações, no trabalho em equipa e na qualidade dos cuidados prestados (Letvak, Ruhm, & Gupta, 2012; Lui, Andreas, & Johnston, 2018). Os custos dos acidentes e doenças relacionados com o trabalho representam na Europa 476 mil milhões de euros (EU-OSHA, 2017b), sendo também elevados os custos do presentismo no trabalho, quer na organização quer na saúde do trabalhador (Ferreira, 2018; Quazi, 2013) . Considerando que o presentismo parece ter economicamente custos mais elevados para as empresas do que os gastos com tratamentos médicos dos seus trabalhadores (Hemp, 2004) e que o stress é uma característica do mundo do trabalho atual, é importante compreender o que motiva os profissionais a permanecer no trabalho mesmo quando se encontram doentes, e qual a influência do stress no trabalho nesta decisão. Para tal, apresenta-se o enquadramento teórico do tema (presentismo e stress no trabalho) a nível geral e, especificamente, nos enfermeiros. Enquadramento teórico O conceito de presentismo surge, pela primeira vez, em 1931 associado à área financeira e económica e até 1970 a sua definição consistia no antónimo de absentismo, sendo apenas em 1980 que surge a designação contemporânea do termo (Johns, 2010). Associada à ambivalência histórica do termo surgem duas perspetivas na definição de presentismo: europeia e norte-americana. A abordagem europeia é dominada pela área da saúde ocupacional, tentando compreender "a ocorrência do presentismo como reflexo da insegurança no trabalho e de outras questões ocupacionais" (Johns, 2010, p.520) e as possíveis consequências na saúde e bem-estar dos trabalhadores. Por sua vez, a abordagem norte-americana assenta os seus princípios em questões económicas e de gestão, evidenciando "a preocupação com o impacto da doença na produtividade" (Johns, 2010, p.520), não tendo em conta as causas que a determinam.
doi:10.25762/5y9p-fj60 fatcat:fjezxm7v55e6fpfan4ezoy74ui