Uso do infliximab na consulta de gastrenterologia pediátrica

Ana Isabel Gouveia Lopes
2012 GE Jornal Português de Gastrenterologia  
A doença inflamatória intestinal (DII) pode ter apresentação em idade pediátrica em 20 a 30% dos doentes, parecendo existir uma tendência mundial para o aumento de incidência neste grupo etário. A apresentação pediátrica tem especificidades, como o impacto no crescimento e o atraso pubertário, exibindo, tal como no adulto, um espectro fenotípico muito variável. A emergência das terapêuticas biológicas (Infliximab, Adalimumab, e Certolizumab) veio modificar extraordinariamente o paradigma de
more » ... rvenção terapêutica da DII tanto na criança como no adulto, atendendo à evidência da sua eficácia, segurança e tolerância, quando comparadas com a terapêutica convencional. Presentente, o Infliximab (IFX) é o único fármaco anti-TNF␣ aprovado (FDA em 2006, INFARMED em 2010) para utilização na doença de Crohn (DC) pediátrica moderada a grave refractária (6-17 A), embora Adalimumab e Certolizumab tenham já sido utilizados off-label no mesmo contexto 1---4 . Apesar de a evidência derivada de ensaios clínicos pediátricos na DII ser ainda escassa e as decisões terapêuticas frequentemente extrapoladas da experiência no adulto, os estudos REACH e SONIC 1,2 constituiram dois contributos determinantes para a recomendação da utilização da terapêutica do IFX na DC em idade pediátrica. De facto, o IFX demonstrou eficácia na indução e manutenção de remissão clínica e histológica, encerramento de fissuras perianais, redução da exposição à corticoterapia, promoção do crescimento prepubertário e no início da puberdade, bem como no tratamento das manifestações extraintestinais 1---3,5,6 Mais recentemente, foi adicionalmente demonstrada a eficácia e segurança da sua utilização na Colite Ulcerosa (CU) moderada a grave em idade pediátrica, determinando redução da taxa de colectomia e sem efeitos adversos major reportados 7,8 . A prática corrente consiste na administração de infusões de IFX (5 mg/kg) às 0, 2, and 6 semanas (terapêutica de indução), seguida de esquema de manutenção cada 8 semanas, podendo ser necessário temporariamente um escalonamento da dose ou redução no intervalo de administração. Apesar da experiência crescente com a sua utilização em idade pediátrica, as melhores estratégias terapêuticas ainda não foram estabelecidas. De facto, a fim de melhorar o perfil de risco/benefício da utilização do IFX é essencial o estabelecimento de critérios de seleção individualizada dos doentes, bem como do timing ideal para a sua introdução, não existindo ainda indicadores preditivos de resposta fiáveis (polimorfismos genéticos, marcadores serológicos, perfis de citocinas, entre outros). Na grande maioria dos estudos pediátricos envolvendo IFX ou Adalimumab, foi adotada uma estratégia step-up, indicando que o tratamento convencional havia falhado previamente ao início da terapêutica biológica (por corticodependência, corticoresistência, intolerância ou resposta insuficiente à terapêutica imunossupressora). Contudo, tem vindo a ser admitida a hipótese de que a utilização de terapêutica anti-TNF␣ poderia ser mais eficaz num estadio precoce da doença, mais suscetível a imunomodulação e com potencial para modificação da história natural 0872-8178/$ -see front matter
doi:10.1016/j.jpg.2012.05.002 fatcat:ndyo4a7bwvccll6iahwlrvro5m