Em nome da ordem: a cultura política anticomunista nas forças armadas brasileiras (1935-1985)
Mauro Eustáquio Costa Teixeira
2014
Mediações: Revista de Ciências Sociais
j~ìêç=bìëí•èìáç='çëí~=qÉáñÉáê~1= = = = RESUMO Este artigo analisa as formulações de caráter anticomunista presentes nas "ordens do dia" através das quais os comandantes militares brasileiros comemoravam, a cada ano, as vitórias das Forças Armadas em 1935, contra a chamada "Intentona Comunista", em 1964, no golpe que derrubou o governo constitucional de João Goulart. Buscamos, nestes discursos, elementos que permitem caracterizar o anticomunismo militar como uma cultura política que orientou o
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... mportamento das instituições castrenses do Brasil ao longo do século XX. Palavras-chave: Anticomunismo. Militares. Cultura política. Brasil republicano. ABSTRACT This article examines anticommunist formulations in the "agendas" through which Brazilian military commanders conduct annual celebrations of two victories by the armed forces: in 1935, against the so-called "Intentona Comunista" (Communist Conspiracy); and in 1964, in the coup that overthrew the constitutional government of João Goulart. In these discourses, we seek elements that allow a characterization of military anticommunism as a political culture that guided the behavior of military institutions in Brazil throughout the twentieth century. INTRODUÇÃO o longo da trajetória política do Brasil republicano, um traço marcante é o papel ativo das Forças Armadas nos momentos de ruptura das instituições e no processo de acomodação que se segue a tais abalos. Foi assim na própria proclamação da República, em 1889, na chamada "revolução" de 1930, na instalação do Estado Novo, em 1937, na derrubada de Vargas em 1945, na crise que levou à renúncia deste ao seu segundo mandato, em 1954, na garantia da posse de Juscelino Kubitschek em 1955-1956 e, sobretudo, no golpe de 1964 e no regime autoritário que se seguiu a ele, quando os militares assumiram, como o apoio de setores civis, o controle do Estado brasileiro. Reconhecemos que não é possível localizar, nesta longa trajetória, um princípio orientador que seja comum a todos os momentos de intervenção militar, de modo que submetesse todos eles a uma mesma lógica. Por outro lado, podemos observar, não em todos, mas em vários deles, um aspecto marcante e duradouro que se transformou em uma das principais referências políticoideológicas das instituições castrenses brasileiras: trata-se do discurso anticomunista. Rodrigo Patto Sá Motta (2002, p. 19), que estudou o anticomunismo na sociedade brasileira entre as décadas de 1920 e 1960, ressalta que este se baseia em uma atitude de "recusa militante" ao comunismo, definido como a "síntese marxista-leninista originadora do bolchevismo e do modelo soviético". Contudo, o mesmo autor chama a atenção para a variabilidade que esta tradição política apresenta ao longo das décadas (MOTTA, 2002, p. 279-280), bem como para a A lp=dormlp=ab=mobppÍl=cloj^alp=mlo=jfifq^obpKKK=====================bK=eK=ab=gK=p^kqlp=b=sK='K=^isbp== ==NRP= diversidade de discursos (católico, nacionalista, liberal) e setores sociais (igrejas, Forças Armadas, imprensa) que podiam portar o anticomunismo como um elemento basilar de sua atuação política (MOTTTA, 2002,). Por sua vez, Luciano Bonet (1998, p. 34-35) procura tipificar a prática do anticomunismo por parte dos Estados; haveria, assim, um tipo "fascista e reacionário em geral, que se traduz na sistemática repressão da oposição comunista, e tem por norma tachar de comunista qualquer oposição de base popular" e outro próprio dos regimes democráticos, no qual, no caso da ausência de uma atuação comunista significativa 2 , o anticomunismo se torna "componente fundamental da cultura política difundida, tendo, por isso, uma função importante na integração sócio-política e na legitimação do sistema".
doi:10.5433/2176-6665.2014v19n1p151
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