Doença renal crônica e estado nutricional [Editorial]
Ana Elizabeth P. L. Figueiredo
2014
Scientia Medica
A doença renal crônica (DRC) é uma epidemia mundial, especialmente em países em desenvolvimento. Em 2004, no Brasil, foi instituída a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão: atenção básica, de média e de alta complexidade. O Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2012 estimou uma população em diálise de quase 100 mil pacientes, sendo que 90% destes estão em
more »
... se, e consomem cerca de 1% do orçamento da saúde no tratamento da DRC. 1 Um terço dos pacientes em diálise no Brasil estão acima dos 65 anos, faixa etária em que as limitações de ordem física aumentam, associadas a múltiplas comorbidades. À fragmentação e complexidade do tratamento desses pacientes, associa-se o prognóstico reservado da DRC. 2 Sabe-se que a DRC em estágio terminal impõe restrições às atividades da vida diária do paciente, como esquema terapêutico rigoroso, que provoca modificações alimentares, convívio com doença irreversível, limitações das atividades sociais e de trabalho, utilização de vários medicamentos, dependência de uma máquina e alterações da imagem corporal. Neste cenário, o trabalho da equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, técnicos de enfermagem e profissionais envolvidos na manutenção dos equipamentos, é de suma importância para garantir a saúde e o bem estar desses doentes. Neste número da Scientia Medica, dois artigos abordam aspectos nutricionais de pacientes em hemodiálise: um deles avalia o estado nutricional e fatores associados, enquanto o outro investiga a relação do estado inflamatório com a massa magra corporal. Barros et al. 3 demonstram associação entre estado inflamatório e idade, achado preocupante frente à realidade cada vez maior de pacientes idosos em hemodiálise. No estudo de Dobner et al. 4 houve elevada prevalência de excesso de peso pelo índice de massa corporal, mas depleção nutricional nas demais variáveis antropométricas, além de diminuição da albumina a valores abaixo do ideal. Estes achados podem estar associados às restrições impostas na alimentação dos pacientes em hemodiálise por DRC, seja pela própria limitação das atividades da vida diária, seja pela inflamação e outras alterações fisiopatológicas da uremia. A preocupação com o estado nutricional é tanta, que a Portaria nº 389 do Ministério da Saúde, publicada em março de 2014, que define os critérios para a organização da linha de cuidado da pessoa com DRC pelo Sistema Único de Saúde, determina, como um dos indicadores de qualidade do programa, que a proporção de pacientes em tratamento dialítico com albumina sérica acima de 3,0 mg/dl deve ser maior do que 70% ao final de dois anos após a implementação da política. Nesse importante documento também é assegurado ao paciente o direito de receber, sob orientação do nutricionista e/ou por prescrição médica, aporte
doi:10.15448/1980-6108.2014.1.17317
fatcat:n5mmd5pblbgbdjj6k3h5cqpsym