CALDEIRÃO CHAMADO CSN, UM: resistência operária e violência militar na greve em 1988
[book]
Edilson José Graciolli
2009
unpublished
A leitura do livro de Edilson José Graciolli representa, antes de mais nada, reviver um dos mais significa tivos e importantes movimentos grevistas da década de oitenta. Relembrar os acontecimentos que marcaram a cidade de Volta Redonda e todo o país naquele mês de novembro de 1988 traz um misto de revolta e admiração: revolta diante da violência resultante da invasão do Exército à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), cujo saldo foi a morte de três operários; admiração pelos atos de coragem de
more »
... milhares de trabalhadores, acampados por três dias no interior da usina e pelas falas de dirigentes sindicais, que revelaram enorme clareza e lucidez tanto na análise dos acontecimentos como na condução do movimento. Para explicar as causalidades, descrever as características e apontar os resultados da greve da CSN, o autor recupera a história da Companhia, valendo-se, sobretudo, do trabalho de Morei (1989). Destaca, nesse primeiro capítulo, dois elementos essenciais para a constituição da ideologia da família siderúrgica2 : a excessiva militarização da CSN e as várias fontes de disciplinamento às quais sua força de trabalho se encontra submetida. A militarização é o resultado da confluência de uma série de fatores: em primeiro lugar, do contexto político no qual a empresa emerge (o Estado Novo); em segundo lugar, da localização da Companhia, próxima à área de segurança militar ; em terceiro lugar, da concepção do duro trabalho ali realizado como um serviço militar, de modo a evitar a evasão de operários insatisfeitos, já que o abandono dos postos de trabalho equivalia à deserção. O disciplinamento da força de trabalho no âmbito da vida privada, por sua vez, é decorrência do modelo de cidade que se cria em torno da firma, que passa a oferecer uma vasta gama de serviços sociais. Esse disciplinamento é reforçado em primeiro lugar pela ação da Igreja, que procura adequar um contingente operário heterogêneo étnica e culturalmente à moral burguesa e, em seguida, por medidas coercitivas (mas também clientelistas e personalistas) utilizadas na gestão da força de trabalho no interior da empresa. Um outro elemento importante para a compreensão do tipo de relação desenvolvida entre a Companhia Siderúrgica Nacional e seus operários é a política de contenção de gastos e de aumento da produtividade, empregada desde a década de sessenta . Tais políticas foram motivadas, de um lado, pela concorrência com a Usiminas e com a Cosipa e, de outro, pelo controle de preços a que a CSN, enquanto empresa pública, estava sujeita. Resultaram na negligência por parte da empresa com a manutenção, ampliação e renovação dos equipamentos, que seria sentida mais fortemente nos anos oitenta, e no controle salarial, intensificado sob a ditadura militar. No segundo capítulo, o autor discute a organização sindical em Volta Redonda, tendo como referência a obra de Mangabeira (1993). Para explicar a ausência de greves na CSN até 1984, Graciolli retoma os argumen-Expressão pela qual ficou conhecida a Nova República, em função das diversas intervenções militares em greves promovidas ao longo do governo Sarney. Cf. Jornal do Brasil, 11/11/1988 apad GRACIOLLI, 1997: 192. 2 Termo forjado por Morei (1989) e utilizado pelo autor.
doi:10.14393/edufu-978-85-7078-175-8
fatcat:ccybw2wppzgzdbwk6exkaeqhzi