CARIOCAS E ESTRANGEIROS: GÊNERO E IDENTIDADE NACIONAL NO PROCESSO IDENTITÁRIO

Renata De, Melo Rosa
unpublished
O texto se baseia na pesquisa de dissertação de Mestrado no IFCS/UFRJ. Como pensar a articulação entre gênero e identidade nacional? Em que medida uma e outra categoria estão interligadas? A partir de quais critérios uma categoria fornece elementos para a constituição da outra? O desafio proposto neste trabalho é articular essas duas categorias, a partir do material tomado aqui para reflexão. Convém destacar que a finalidade deste texto não é de caráter conclusivo, mas propositivo. Esta
more » ... e pode ser atribuída à discussão relativamente incipiente, no Brasil, a respeito da conexão identitária entre gênero e identidade nacional. Portanto, o escopo das discussões engendradas no texto deve ser lido a partir deste caráter "experimental", que atualmente envolve esta temática. O material ancora-se na pesquisa realizada no Rio de Janeiro com um grupo de doze mulheres, com idade entre 23 e 35 anos, com identidades "raciais" diversas, que percorrem, em grande medida, o contínuo de cor relativo ao senso comum brasileiro i , muito mais que a definição estanque de identidades "raciais" polares ii. O que as une enquanto grupo é o fato de todas estarem refletindo sobre a experiência de se relacionar com homens estrangeiros iii. Serão tomados como focos centrais da análise, trajetórias que ilustram de modo bastante sintomático os olhares femininos das brasileiras em contraste com os olhares masculinos dos estrangeiros. A composição deste quadro de representações, femininos e nacionais, de um lado, e masculinos e estrangeiros, de outro, revela o modo pelo qual, ser mulher e brasileira constitui um elemento simbólico que, do ponto de vista das brasileiras, agrega valor às suas identidades frente a mulheres de outras nacionalidades. Contudo, do ponto de vista dos estrangeiros, a visão mais frequente é de mulher latina, sem distinção de uma nacionalidade específica. Ser brasileira e carioca é interpretado pelos estrangeiros como sinal de sexualidade exacerbada, de um lado, e de uma mulher tradicional, de outro. Tal articulação será melhor explicitada ao longo do presente trabalho. Ângela Cristina, Roberta, Érika, Cíntia e Flávia fazem parte deste grupo de mulheres cariocas que não escondem o desejo de se casarem com homens estrangeiros. Ângela Cristina, a mais velha de todas, 35 anos, "negra" um alemão que, apesar de frustrado, continua fazendo parte do conteúdo simbólico de sua identidade. Flávia, 26 anos, "negra", namorou um rapaz argentino, seguido de um holandês. Embora a trajetória de cada uma se distinga sensivelmente por questões ligadas a classe, cor e escolha profissional, todas as moças pesquisadas constróem (ou corroboram) estereótipos em relação a si próprias como brasileiras, em relação aos homens brasileiros, e em relação a seus parceiros e seus locais de origem, além de vivenciarem a "imposição" de se "tornarem" brasileiras no exterior.
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