LEITE, Ana Mafalda. Outras fronteiras: fragmentos de narrativa. São Paulo: Kapulana, 2017. 80 p

Luara Pinto Minuzzi
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Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4.0 Internacional. Ana Mafalda Leite escreve acerca de identidades híbridas e movediças em seus livros teóricos sobre as literaturas africanas, como em Oralidades e escritas pós-coloniais: estudos sobre literaturas africanas. Estudando as literaturas dos países africanos que foram colonizados por Portugal, como as de Moçambique e de Angola, essa
more » ... acerca do que as identifica torna-se muito importante. Tal importância cresce devido à recente descolonização dessas nações, aos inúmeros anos seguidos de guerras que as desestabilizaram e à necessidade de elas se firmarem enquanto independentes não apenas politicamente, mas também social e culturalmente. Leite, porém, não apenas trata desse assunto em seus escritos teóricos: em seu mais novo livro de poemas, Outras fronteiras: fragmentos de narrativas (2017), publicado pela editora Kapulana, a questão da identidade igualmente surge. Surge, entretanto, de uma forma distinta: o leitor pode identificá-lo em meio a cores vivas e ricas, a elementos da natureza, à poeticidade e ao trabalho estético da palavra. O volume divide-se em quatro partes: "Como se a manhã do tempo despertasse", "Poemas de Moatize", "Outras fronteiras: fragmentos de narrativas" e "O Índico em Marrakesh". É claro que os poemas, extremamente plásticos e visuais, não versam apenas sobre a questão da identidade; apesar disso, essa parece ser uma temática recorrente em cada uma das seções, apresentando-se, em cada uma, a partir de aspectos e de nuances distintas. Na primeira, "Como se a manhã do tempo despertasse", no poema com o mesmo título, o eu lírico questiona-se sobre "os lugares de onde fala esta voz" (LEITE, 2017, p. 10). Depois, há o diálogo com outra pessoa, que afirma ser o eu lírico "uma paisagem com uma janela dentro" e "uma personagem que se desdobra. Sem nome" (ibidem, p. 10). Essa incerteza ou indefinição da personalidade surge em outros poemas: "Sou astral e sou oriente", "me lanço no avesso das identidade" e "estou em casa sempre" (ibidem, p. 35), em "Fronteiras, de que lado pergunto-me", da seção que dá título à obra; "encontrar-me sem onde" (ibidem, p. 54) e "em nossas Autora:
doi:10.15448/1983-4276.2018.1.33025 fatcat:4i2r53jfenc7fackfpxxxvrhry