A matança dos mortos sagrados: memória, literatura e história na obra de Dalton Trevisan
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Fabricio Leal de Souza
Julgamento: ______________________________________________ Resumo SOUZA, Fabricio Leal de Souza. A matança dos mortos sagrados: memória, literatura e história na obra de Dalton Trevisan. 2019. 195 f. Tese (Doutorado em História Social) -Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Este trabalho tem por objetivo analisar os textos que o escritor Dalton Trevisan publicou na Joaquim, revista por ele criada e dirigida entre os anos de 1946 e 1948.
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... ferentemente dos seus livros ficcionais, esses textos podem ser considerados manifestos, pois são reveladores das raras tomadas de posição do escritor acerca dos debates estéticos do século XX. Antes de ser um escritor reconhecido, Trevisan se posicionou no campo literário de Curitiba como um iconoclasta. Os personagens que ocupavam um lugar de destaque no campo da poesia, da pintura, da escultura e de outras manifestações, foram alvo dos seus escritos da juventude. A deslegitimação que impôs era acompanhada de uma nova proposta estética, de uma nova maneira de olhar para a realidade. Apesar de já estarem mortos, Trevisan realizava uma matança simbólica para redimensionar a memória e o exemplo que inspiravam.a Esses artistas também foram acusados por Trevisan de impedir que Curitiba desenvolvesse o modernismo, o que teria mantido a cidade distante das mais intensas convulsões estéticas. Parlelamente aos textos da revista Joaquim, analisamos também uma série de documentos de Dalton Trevisan ainda inéditos, condição que contribuiu para relevar questões fundamentais sobre a trajetória do escritor mais recluso do Brasil. Palavras-chave: Dalton Trevisan. Literatura Brasileira. Modernismo. Cultura Brasileira. Paranismo Abstract SOUZA, Fabricio Leal de Souza. A matança dos mortos sagrados: memória, literatura e história na obra de Dalton Trevisan. 2019. 195 f. Tese (Doutorado em História Social) -Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. This work aims (The purpose of this work is ) to analyze the Dalton Trevisan's texts, published in Joaquim magazine, which, he created and directed between the years 1946 and 1948. Unlike his fictional books, these texts can be considered as a manifest, because they are revealing of the writer's rare positions on the Aesthetic Debate of the 20th Century. Before becoming a recognized writer, Trevisan positioned himself in the literary field of Curitiba as an iconoclast. The persons who occupied a prominent place in the field of poetry, painting, sculpture and other manifestations, were the targets of his youth's writings. The delegitimization introduced by him was accompanied by a new aesthetic proposal, a new way of looking at reality. Although they were already dead, Trevisan performed a symbolic killing to change the size of the memory and example that they inspired. These artists were also blamed (accused) by Trevisan of preventing Curitiba from experiencing modernism, keeping the city away from the most intense aesthetic convulsions. Parallel to the texts of the journal Joaquim, we also analyze some of Dalton Trevisan's still unpublished documents. This condition helped to highlight (This condition that contributed to reveal) fundamental questions about the trajectory of the most reclusive writer in Brazil. Keywords: Dalton Trevisan. Brazilian literature. Modernism. Brazilian Culture. Paranism. 14 contrapôs ao fragmento citado por ele mesmo, permite evidenciar o perigo de se cometer um equívoco de interpretação. A diferença de percepção é apenas sobre a situação da arte, pois o considera "senhor, no instante, da interpretação exata." 13 O mesmo cuidado é válido para todas as passagens quando lidas e aceitas tal como se apresentam, desprendidas de seus suportes, propósitos, lugares e épocas. A dissimulação que encobre o autor faz parte do processo criativo. Leitores leram. Aí residia a finalidade. A diferença é que uma análise não se equivale a uma leitura. E se há um código para acessar o manifesto, de início temos sete possibilidades, e cada uma se conectando, ao seu modo, com intensas e profundas experiências humanas. *** "Os versos são experiências e é preciso ter vivido muito para escrever um só verso." É a passagem de Rilke que abre o manifesto e nos leva para Os cadernos de Malte Laurids Brigge: Ah, mas versos escritos cedo não são grande coisa! Deveríamos esperar para escrever, e juntar senso e doçura por uma vida inteira, longa, se possível, e então, bem no fim, talvez pudéssemos escrever dez linhas que fossem boas. Pois versos não são, como pensam as pessoas, sentimentos (deles temos o bastante na juventude) -são experiências. Por causa de um único verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer os animais, é preciso sentir como os pássaros voam e saber com que gestos as pequenas flores se abrem pela manhã. É preciso ser capaz de recordar caminhos em regiões desconhecidas, encontros inesperados e despedidas que vemos se aproximar por longo tempo -dias de infância, ainda inexplicados, os pais que tínhamos de magoar quando nos traziam um presente e não o entendíamos (era um presente para outro...), doenças de infância que começam tão estranhamente, com tantas metamorfoses profundas e difíceis, dias em quartos quietos e reservados, e manhãs junto ao mar, sobretudo o mar, os mares, as noites de viagem que passavam ruidosamente e voavam com todas as estrelas -e ainda não é o bastante se precisamos pensar em 13 Op. Cit. p. 94 14 RILKE, P. 11. 15 P. 24 20 PILOTTO, P. 88. 21 66
doi:10.11606/t.8.2019.tde-27012021-164650
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