Apontamentos sobre racismo, poder e ética
Erick Assumpção
2015
Ethic@: an International Journal for Moral Philosophy
RESUMO Este artigo parte dos apontamentos de Judith Butler acerca de uma diferente alocação de vulnerabilidade entre os grupos humanos, tendo como fim a compreensão do funcionamento do racismo desde sua formulação no racismo de Estado até suas atuações noopolíticas. A partir daí, tem-se como proposta o debate acerca de uma ética possível para enfrentar o racismo. Palavras-chave: Política. Vulnerabilidade. Biopoder. Noopolítica. ABSTRACT This article has as point of departure Judith Butler's
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... m on the different manners of distribute vulnerability among human groups. We aim to comprehend racism's function from its configuration as racism of the State to its noopolitics acting. Through that, we have as proposal the debate on a possible ethics to confront racism. Este artigo tem como ponto de partida a afirmação de Judith Butler, presente no livro Precarious Life: the powers of mourning and violence, a saber: "[h]á formas de distribuir a vulnerabilidade, diferentes maneiras de alocá-la que fazem com que algumas populações sejam mais sujeitas à violência arbitrária do que outras" (BUTLER, 2004, p. XII). Ou seja, certas vidas têm ao seu redor aparatos de proteção, que por vezes, não apenas assemelham-se, mas são aparatos de guerra; enquanto, por outro lado, há vidas cuja vulnerabilidade é potencializada e danos são instalados. Nesse sentido, podem ser feitas algumas convergências conceituais com o vocabulário específico da bioética: 1) a vulnerabilidade como "condição ontológica de qualquer ser vivo" (SCHRAMM, 2008, p.20); 2) a suscetibilidade como potencialização da vulnerabilidade, no sentido de maior propensão a danos e; 3) a vulneração como condição na qual algum dano já foi instalado e perdura-se a condição de suscetibilidade. O que pode ser entendido como alocação de suscetibilidade e vulneração emerge como objeto deste trabalho. Em particular, Buscar-se-á trazer à luz um tipo específico dessa alocação: o racismo. A compreensão deste partirá do que Foucault denominou racismo de Estado, este uma reconfiguração do poder soberano. Segundo Foucault, a atuação por meio do racismo assegura ao Estado uma função que 2 ASSUMPÇÃO, E. Apontamentos Sobre Racismo, Poder e Ética ethic@ -Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.1-12, Jul. 2015. remete à soberania, isto é, a "função assassina" (FOUCAULT, 2010, p. 215). Logo, tem-se como objetivo específico, apontar como se dá esse poder soberano -poder de fazer morrerpor meio dessa vertente do racismo.
doi:10.5007/1677-2954.2015v14n1p1
fatcat:aop5oqza5nfspddp3ublrwofg4