The National Museum and its role in the history of science and health in Brazil
O Museu Nacional e seu papel na história das ciências e da saúde no Brasil
Dominichi Miranda de Sá, Magali Romero Sá, Nísia Trindade Lima
2018
Cadernos de Saúde Pública
Cad. Saúde Pública 2018; 34(12):e00192818 "As histórias não são contadas uma vez por todas, para toda a eternidade, mas surgem sempre em função de determinados problemas de orientação temporal, de determinadas épocas e determinados homens" 1 (p. 129). Introdução No domingo, 2 de setembro de 2018, o país foi surpreendido pela notícia de que o Museu Nacional, situado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, estava em chamas. As primeiras imagens foram chocantes; tratava-se de um incêndio de
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... es proporções. As notícias eram dilacerantes para profissionais e estudantes da instituição, que celebrava seus dois séculos de existência no mesmo ano do desastre: o acervo de 20 milhões de peças, de valor inestimável para diferentes áreas científicas, como arqueologia, biologia, paleontologia, antropologia física e cultural, etnologia, história e botânica, estava quase inteiramente destruído. O Museu abrigava biblioteca e coleções biológicas e documentais; afrescos; fósseis; artefatos de diferentes sociedades pré-colombianas, ameríndias, indígenas, africanas, egípcias e etruscas. Do seu acervo, constavam o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas; o meteorito de Bendegó, descoberto no século XVIII, e muitas outras peças que encantaram gerações de visitantes. O próprio prédio histórico, o Palácio de São Cristóvão, um dos maiores patrimônios culturais do país, ficou em ruínas e mal deteve a sua fachada. O incêndio no Museu Nacional, instituição de pesquisa, ensino e memória subordinada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abriu enorme debate na opinião pública. Em conjuntura de gravíssima crise política, institucional e econômica no país, o evento suscitou discussões sobre carência orçamentária e de infraestrutura nas universidades públicas, ausência de políticas de cultura e CT&I no Brasil, modalidades de captação e gestão de recursos na esfera pública, privatização de museus e reforma do Estado. O desastre levou à extinção do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e à criação da Agência Brasileira de Museus (Abram) em clara reorientação da política federal para as instituições de memória e cultura. Um dos pontos cruciais do debate público era a pergunta: como entes federativos e sociedade brasileira permitiram que parte importante da simbologia e materialidade da história nacional fosse completamente destruída? Quais memória e história institucionais são possíveis depois do trauma? O historiador da ciência David Knight 2 chamou a atenção de que é impossível colocar questões ao passado sem fontes ao Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado.
doi:10.1590/0102-311x00192818
pmid:30517317
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