FLORES, G. G. Horácio. Arte Poética. Tradução, introdução e notas de Guilherme Gontijo Flores. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020
Alexandre Pinheiro Hasegawa
2021
Revista do GEL
Guilherme Gontijo Flores, que anuncia tradução completa das obras de Horácio (p. 31), inaugura o projeto com a Arte Poética (daqui em diante AP), também conhecida como Epístola aos Pisões ou ainda Epístolas 2.3. A obra, com prefácio de Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (p. 11-12), está dividida em quatro partes, excluindo as informações sobre o tradutor ao fim (p. 171): 1) texto introdutório, intitulado "Um regulador esquivo" (p. 13-37); 2) o texto latino da AP ao lado da tradução (p. 40-73); 3)
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... notas sobre o texto e a tradução (p. 77-137), e 4) bibliografia em que o autor elenca os títulos que usa para o estudo e tradução de toda a obra de Horácio (p. 143-170). A resenha, portanto, será dividida nestas mesmas partes, em que procuro discutir os aspectos principais da publicação, sem deixar, porém, de listar ao fim de cada uma o que talvez deva ser corrigido para a segunda edição. O ensaio introdutório "Um regulador esquivo" Alguns aspectos -quase como topoi nos estudos sobre a AP -sempre são discutidos por quem se dedica a este texto tão fundamental do corpus horaciano, a saber: o título, data de composição e/ou publicação, os destinatários (os Pisões), a organização do texto e o gênero. Tais tópicos dominam os estudos da AP, escrita em hexâmetros datílicos, com 476 versos, constituindo-se como o mais longo poema de Horácio. O autor também passa por todos esses assuntos. Os três primeiros (título, datação e destinatários), sobre os quais ainda temos muitas dúvidas, sem que haja acordo entre os estudiosos, são tratados mais brevemente. Assim, Flores, junto com parte da crítica, situa a obra no fim da carreira do poeta, em torno de 10 a.C. (p. 17); entende que os Pisões são, mais provavelmente, 1 Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil; ahasegawa@usp.br; https://orcid.org/0000-0002-3275-0629 Revista do GEL, v. 18, n. 2, p. 218-236, 2021 • | Arte Poética (resenha) • • • | 219 o pontífice Lúcio Calpúrnio Pisão e dois filhos deste (p. 15-16), e segue o título mais conhecido, Arte Poética, já presente em Quintiliano (séc. I d.C.) -autor não tão distante de Horácio no tempo -, na Formação do Orador (8.3.60: tale monstrum quale Horatius in prima parte libri de arte poetica) 2 . Embora os três pontos sejam questões ainda sub judice, julgo que estudos recentes (e não tão recentes), que Flores parece desconhecer, trouxeram importantes contribuições para o debate, sobretudo em relação aos destinatários, a saber: a) FRISCHER, B. Shifting de detalhar todos os argumentos aqui, mas parece-me importante atualizar, em parte, a discussão sobre a AP, que progrediu bastante desde o fundamental estudo e monumental comentário de Brink (1963 e 1971) e o mais breve de Rudd (1989), três das principais obras usadas por Flores. Fugindo da oposição entre o pontífice Lúcio Calpúrnio Pisão 3 e Cneu Calpúrnio Pisão, Frischer (1991, p. 5-59), em estudo polêmico e já bem discutido 4 , baseado em parte em estatísticas, propõe que a epístola foi composta entre 24-20 a.C. e dirigida a Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino e seus dois filhos, entre os quais o pontífice Lúcio Calpúrnio Pisão, que foi poeta e cônsul em 15 a.C. A proposta, se não pôs fim à discussão, trouxe
doi:10.21165/gel.v18i2.3121
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