A memória em Caminho como uma casa em chamas de António Lobo Antunes

Dóris Helena Soares da Silva Giacomolli
2020 Cadernos de História  
Esse artigo apresenta, como objetivo, refletir as concepções de tempo e suas relações com a memória no que se refere à constituição das narrativas e analisa a concepção de memória em A Memória, A História e o Esquecimento, de Paul Ricoeur e como esta se apresenta em Caminho como uma casa em chamas, de António Lobo Antunes, bem como expõe algumas singularidades do romance através de uma revisão narrativa baseando-se na obra de Ricoeur. Sendo a memória uma capacidade de lembrar, de guardar
more » ... os, indícios e vislumbres, ela é de importância fundamental para o indivíduo. Caminho como uma casa em chamas, o romance de António Lobo Antunes forma uma conexão com o trabalho de Paul Ricoeur quando esse no diz que lembrar-se de algo não é tão simples como somente receber uma imagem do passado, não é um ato passivo, mas ativo; o sujeito deve ir buscá-la, ativamente sendo a memória, portanto, exercitada. Os resultados evidenciaram que Ricoeur entende a memória como uma experiência que o indivíduo tem de ressignificar ou representar; a memória se transforma em elemento primordial, é tratada e discutida na perspectiva de conferir um dever de legitimação. As lembranças são usadas durante toda narração, de um modo constante, de forma a se refletir no presente dos narradores. A memória, enquanto construção de caráter mutável e repleta de subjetividades, aparece em Caminho como uma casa em chamas como um arquivo de lembranças, intensamente marcadas, bem como de esquecimentos e vazios que podem se preencher de ruínas, rasgos de sonhos e pesadelos.
doi:10.5752/p.2237-8871.2019v20n33p203 fatcat:cj3ryk6wjbgnfnmh3mu6w5vf4q