FILOSOFIA E ÉTICA DO DISCURSO: O FUNDACIONISMO MODERADO EM HABERMAS

Vânia Dutra de Azevedo
2018 Conjectura filosofia e educação  
Resumo: Neste texto, procuramos mostrar, a partir do texto de Habermas "A filosofia como guardador de lugar e intérprete" e das considerações do filósofo sobre a ética do discurso, que há no pensamento habermasiano a proposição de um fundacionismo moderado em ética que se apresenta na busca de uma justificação racional para as normas morais a partir dos pressupostos necessários da argumentação em geral, recusando, com isso, um fundacionismo absoluto que se coloque para além da história e do
more » ... ntimento dos envolvidos, levando Habermas a rever o papel da filosofia, que passa a ser de intérprete e guardiã da racionalidade e a dimensão da razão, entendida como dialogal ao invés de monológica. Palavras-chave: Razão. Ética. Fundacionismo. Argumentação. Validade. Abstract: In this text, we seek to show from Habermas' text "The philosophy as keeper of place and interpreter" as well as the philosopher considerations about the ethics of discourse, which has in the habermasian thought the proposition of a moderate foundationalism in ethics which reveals itself in search of a rational justification for the moral norms starting from the necessary assumptions of argumentation in general, refusing, with this, an absolute foundationalism which puts itself beyond the history and the assent of the involved, leaving Habermas to review the role of philosophy, which turns to be as interpreter and guardian of rationality and the dimension of reason, understood as dialogic rather than monological. Partindo do texto de Jürgen Habermas, "A filosofia como guardador de lugar e intérprete", visamos a mostrar a impossibilidade de manutenção de um fundamento absoluto em filosofia, mediante a substituição de um discurso filosófico como indicador de lugar e juiz, pelo de guardador de lugar e intérprete. Com esse texto, o propósito axial de Habermas, a nosso ver, é mostrar o limite do projeto fundacionista nas dimensões cognitivoinstrumental, moral-prático e estético-expressivo, enquanto, justamente, se configura como manutenção de um fundamento absoluto. Posteriormente, mostraremos que há, em Habermas, um fundacionismo moderado em ética, já que, partindo dos atos de fala de Austin (1990) e da contradição performativa de Karl-Otto Apel (1994) consegue justificar uma pretensão de justiça análoga à pretensão de verdade a partir do conceito de validez, aplicado ao mundo objetivo das coisas, como verdade, ao mundo das normas, como justiça, ou correção normativa e, ao mundo da autorrepresentação como sinceridade, conferindo, com isso, sentido a proposições que enunciam aquilo que deve ser e, portanto, salvaguardando a razão no domínio do agir, mas sem, ao mesmo tempo, transformar a filosofia em indicador de lugar ou um juiz da cultura que restaure um fundacionismo absoluto. Em que pese ele introduzir o "princípio de universalização", veremos que é apresentado como uma regra de argumentação, cujo papel consiste em assegurar a validação das normas enquanto produto consensual de um discurso prático. Habermas, no texto A filosofia como guardador de lugar e intérprete, pretende questionar os papéis da filosofia como indicador de lugar e de juiz expresso nas teorias fundamentalistas e absolutistas. O procedimento do autor consiste, primeiramente, numa exposição dos pressupostos de ambas as teorias e, em um segundo momento, na colocação dessas sob as críticas de diversas correntes filosóficas, visando, com isso, a resgatar o papel adequado da filosofia, que passa a ser, na avaliação dele, o de guardador de lugar e de intérprete, possibilitando a intercomunicação das diversas áreas da cultura. Com relação a Kant, diz: "Kant introduz um novo modo de fundamentação da filosofia" (HABERMAS, 1989, p. 17), considerando as possibilidades do conhecimento humano a partir da investigação das condições a priori da possibilidade de experiência, denominando isso de filosofia transcendental. Na base dessa fundamentação, está, agora, "a ideia de que podemos nos certificar do caráter insubstituível de determinadas operações intuitivamente executadas desde sempre segundo regras". (HABERMAS, 1989, p. 17). Para Habermas, Kant tornou-se um "mestre-
doi:10.18226/21784612.v23.dossie.19 fatcat:edtbwp3ygzconc63gm72ibpx2a