Editorial II: sobre a revisão sistemática e a meta-análise na área da fluência

Monica Medeiros de Britto Pereira
2010 Revista CEFAC  
A revisão da literatura é de grande importância ao se iniciar uma pesquisa, pois é por meio dela que contextualizamos nosso trabalho dentro da área de pesquisa em questão. No entanto, para se fazer um bom levantamento de estudos já existentes é necessário ter, em primeiro lugar, acesso a fontes de informação con áveis (base de dados com indexação, livros de autores conhecidos, teses e dissertações). Digo em primeiro lugar porque não adianta ter acesso a base de dados sem saber como chegar aos
more » ... nteúdos que darão suporte à sua pesquisa. Para isso é necessário escolher as palavras chaves corretas e essa escolha, por sua vez, é decorrente de uma questão de pesquisa bem elaborada. Mesmo assim, corremos o risco de errar ao incluir ou excluir estudos e estabelecer comparações entre eles e a pesquisa que estamos pretendendo conduzir. Atualmente observa-se uma tendência a se fazer o que chamamos de revisão sistemática e metaanálise. Segundo Dollaghan 1 , nas revisões sistemáticas e meta-análises busca-se sintetizar evidências externas entre múltiplos estudos que foram identi cados e analisados com base em critérios adequados e procedimentos explícitos e transparentes. Dessa forma, evita-se a tendenciosidade na visão panorâmica trazida por outros estudos. Já na revisão de literatura tradicional, o autor decide, a partir de critérios subjetivos, quais trabalhos incluir. A principal diferença entre essas formas de pesquisa é que os resultados de uma meta-análise são apresentados de forma quantitativa, com análises estatísticas e intervalos de con ança. Dessa forma, estudos que não foram publicados ou que não apresentam tratamento estatístico tendem a ser excluídos de uma meta-análise por correrem o risco de apresentar pobreza metodológica. Outro aspecto a ser observado é que a pesquisa não deve se limitar apenas a estudos escritos na língua materna do pesquisador, o que limitaria enormemente os resultados. En m, a revisão sistemática e a meta-análise mostram que os resultados de um estudo único não são conclusivos e que por isso o pesquisador deve fazer um levantamento cuidadoso antes de iniciar sua pesquisa. No que se refere à área da uência, diversos estudos internacionais, conduzidos em sua maior parte na Europa e Estados Unidos, já foram realizados utilizando a meta-análise, envolvendo, na grande maioria, aspectos referentes às diferentes abordagens terapêuticas no tratamento da gagueira do desenvolvimento. Nesse caso, a meta-análise se coloca como um instrumento para levantar evidências sobre a e cácia de métodos de tratamento de gagueira. Isto nos remete ao termo "tratamento baseado em evidências" que se refere ao uso consciente de evidências advindas de pesquisas com o m de embasar a terapia a ser implementada com um cliente. Ou seja, signi ca que o clínico ao iniciar uma terapia não deve se embasar apenas em "opiniões" sobre métodos e técnicas terapêuticas ou até mesmo unicamente na sua percepção sobre determinada técnica e método, e sim em evidências já descritas em pesquisas publicadas. No Brasil, a área de pesquisa em uência ressente-se pelo reduzido número de pesquisadores principalmente se comparada à área de audiologia e distúrbios da audição. Por este motivo, não contamos ainda com estudos que utilizem a meta-análise como recurso para pesquisar evidências que venham nortear procedimentos terapêuticos. Digo isso, pois devido às diferenças culturais existentes entre o Brasil e os países europeus e os Estados Unidos, muitas vezes corremos o risco de "comprar" evidências "importadas" que não se adequam a nossa cultura, daí a importância de realizarmos nossos estudos. Fica, então, aqui a minha sugestão de incluirmos, o mais rápido possível, a meta-análise em nossa prática de pesquisa.
doi:10.1590/s1516-18462010000100002 fatcat:oprtubrabbb4lc4cr37fnwg424