Entre perdas e ganhos: homossexualidade masculina, geração e transformação social na cidade de São Paulo [thesis]

Gustavo Santa Roza Saggese
Para Bruno, meu irmão (in memoriam). Sua falta é imensa. AGRADECIMENTOS A história deste trabalho se confunde com minha chegada em São Paulo. Vivia um momento especialmente atribulado, e me mudar para uma cidade conhecida pela "dura poesia concreta de suas esquinas", como diz Caetano, teria tudo para tornar essa vinda ainda mais complicada. Felizmente, fui muitíssimo bem recebido e meu "difícil começo" foi aos poucos dando lugar a um sentimento de pertença que hoje me permite chamar Sampa de
more » ... . Meu primeiro agradecimento, portanto, vai para todos os paulistanos e demais habitantes dessa selva de pedra que gentilmente me acolheram. Sou extremamente grato à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelas bolsas de estudo que possibilitaram a realização desta pesquisa. À segunda, especialmente, agradeço pelos recursos da reserva técnica que me permitiram ir a congressos em várias partes do Brasil e do mundo discutir versões preliminares desta investigação. Meu profundo obrigado, também, ao/à parecerista que me acompanhou desde o início, suscitando reflexões de suma importância para a tese. Ao meu orientador, Julio Assis Simões, não tenho palavras suficientes para agradecer a amizade e o apoio que me foram ofertados durante esses mais de quatro anos em que estive às voltas com o doutorado. Desde que decidi tentar o processo seletivo, Julio esteve ao meu lado e foi muito além do papel de orientador, sempre presente e me incentivando a continuar nos momentos em que fui acometido por frustrações acadêmicas ou pessoais. O convite para auxiliá-lo com a monitoria de duas disciplinas de graduação foi também uma enorme dádiva e colaborou enormemente para minha formação. Aos professores Vagner Gonçalves da Silva, Laura Moutinho, Guita Grin Debert, Lilia Schwarcz e Heloísa Buarque de Almeida, agradeço pelas oportunidades de interlocução, tanto a partir de textos quanto em contextos mais informais. O agradecimento se estende a Sérgio Luís Carrara (meu orientador de mestrado, com quem também tenho enorme dívida acadêmica e afetiva), Horácio Sívori e Adriana Vianna, professores que ministraram disciplinas cursadas em 2010 e 2011 no Rio. Ao professor Edward MacRae, um agradecimento especial por abrir as portas de sua casa e me permitir entrevistá-lo quando ainda tinha muitas dúvidas sobre os caminhos que a pesquisa iria percorrer. Agradeço, por último, a todos os professores que coordenaram e debateram os grupos de trabalho nos quais tive o privilégio de participar. Aos meus colegas do NUMAS, sou grato pela amizade e pelo carinho que sempre permearam nosso trabalho, especialmente nas leituras mútuas e nos eventos que organizamos juntos. Não há como não citar nomes: . A esse último, não tenho como deixar de destacar a presença companheira quando ainda tateava a capital paulista. Aos demais colegas da USP, agradeço igualmente pelo afeto. O companheirismo de vocês foi inestimável e me ajudou sobremaneira a me sentir em casa nesse novo ambiente acadêmico. Sou grato a toda a turma de mestrado e doutorado de 2010, especialmente a quem troquei muitos lamentos sobre a mudança para São Paulo em nosso primeiro ano de curso). Agradeço, além disso, a João Henrique Custódio e Eros Sester Prado, além de todos os que fizeram parte da Comissão Editorial da Cadernos de Campo em 2012: Isadora Lins França e Regina Facchini, professoras e amigas, merecem um obrigado à parte. Não só por terem aceitado, respectivamente, o convite para a arguição e suplência, mas pelo apreço com que sempre me trataram e discutiram meu trabalho em diversas outras ocasiões. A amizade de ambas é algo que cultivo e que espero manter ao longo de toda a vida. Aos funcionários da secretaria do Departamento de Antropologia, minhas mais sinceras congratulações. Sem a ajuda e dedicação de vocês, tenho certeza de que esses últimos anos teriam sido infinitamente mais árduos. Peço desculpas pela insistência em esclarecer algumas dúvidas e agradeço a atenção invariavelmente dispensada. Ivanete Ramos, Soraya Gebara, Rose de Oliveira, Celso Gonçalves e Edinaldo Faria Lima, meu muito obrigado. Aos amigos de outros círculos acadêmicos (especialmente a UERJ, minha casa durante sete anos), não poderia deixar de agradecer pelos momentos de aprendizado e interlocução em disciplinas, congressos, conversas de bar e encontros dos mais variados tipos. São eles: , os mais recentes, foram dois grandes presentes que ganhei em 2014. Os amigos de fora da academia que acompanharam o processo de elaboração desta tese desempenharam, sob diversas formas, um papel fundamental na minha vida, escutando minhas angústias sobre a penosa tarefa que é escrever e oferecendo seu apoio incondicional. Binenbojm (in memoriam), Sima Ghelfond e Suely Bercovici, vocês me ajudaram mais do que provavelmente imaginam. À minha família, tanto a biológica quanto a que a vida foi delineando, também só tenho a agradecer. Ao meu pai, Edson, sou imensamente grato por todo o amor que tem por mim e pela confiança que sempre depositou no sucesso deste projeto. A Joyce, tia Cyrene, tio Alfredo, tio Fernando, tia Maricy, tia Zezé, tia Otília, minha madrinha Neyza, Isabela e Oneida, agradeço pelas mesmas coisas. Minhas primas Palloma, Yanne, Flavia e Fernanda também contribuíram, cada uma ao seu modo, para a concretização do que há não tanto tempo parecia muito distante. À minha mãe, Eliza (in memoriam), e à minha afilhada Letícia, a quem dediquei, respectivamente, minha monografia de graduação e minha dissertação de mestrado, vocês continuam a ocupar um lugar privilegiado no meu coração. A Bruno, agradeço o amor e a parceria que marcaram grande parte desse trajeto. Não poderia, é claro, esquecer dos meus filhos felinos, Midi e Minuit, testemunhas vivas desse processo e companheiros de todas as horas. A Austin (in memoriam) e Ziza, filhos que infelizmente não pude ver com tanta frequência, saibam que forame sãoigualmente importantes para mim. Marcia e Anna Elisa, a paciência e o cuidado que me dedicam foram imprescindíveis para que eu chegasse até aqui. Sem eles, não sei se teria conseguido finalizar esta tese. Muitíssimo obrigado, de coração. Agradeço, finalmente, àqueles sem os quais não haveria pesquisa in the first place: meus interlocutores. Creio que minha gratidão está implícita nas muitas linhas que constituem este trabalho, mas me permitam ser redundante e agradecê-los mais uma vez neste espaço. As informações que partilharam, a abertura que me proporcionaram às suas vidas e a confiança que depositaram em mim não serão esquecidas jamais. "A dor foi grande, foi grande a mortificação, mas o pior estava por vir. Clive irmanara-se tanto com seu amado que passou a abominar a si mesmo. Toda a sua filosofia de vida ruía, e o senso do pecado renasceu nesses escombros, rastejando pelos corredores. Hall dissera que ele era um criminoso, e devia estar certo. Era maldito. Nunca mais ousaria ser amigo de um jovem de novo, por medo de corrompê-lo. Não fizera Hall perder a fé na cristandade, atentando além do mais contra sua pureza?" (FORSTER, E. M. Maurice. São Paulo: Ed. Globo, 2006). RESUMO Baseada em pesquisa etnográfica envolvendo observação participante e entrevistas em profundidade realizadas entre 2011 e 2013, a proposta deste trabalho consiste em investigar a maneira pela qual homens de meia-idade provenientes de camadas médias e residentes na cidade de São Paulo experimentam e percebem transformações relativas à visibilidade homossexual ao longo de suas vidas e, mais especialmente, das últimas três décadas. A partir de uma análise dos discursos, tento construir junto aos interlocutores uma dialética que leva em conta tanto a experiência subjetiva de pertencimento a um grupo tradicionalmente marginalizado quanto a posição sócio-histórica que ocupam. Aqui, entram em jogo vários marcos, como o final da ditadura militar e a abertura política do Brasil, os pânicos morais suscitados pelo advento da epidemia de HIV/AIDS em meados da década de 1980 e a participação de alguns deles em movimentos sociais. Alvo de discussões acaloradas no cenário político nacional, exploro também suas posições sobre acontecimentos mais recentes, como o surgimento das Paradas do Orgulho LGBT e os embates envolvendo o reconhecimento das uniões homoafetivas e a criminalização da homofobia no país. Ao mesmo tempo, problematizo o marcador "geração" e procuro entender as diferenças que apontam entre eles e os "mais jovens". Palavras-chave: homossexualidade masculina, geração, transformação social, movimento LGBT ABSTRACT Drawing on ethnographic research involving participant observation and in-depth interviews conducted between 2011 and 2013, this study investigates the way by which middle-class, middle-aged men from São Paulo experience and perceive transformations of homosexual visibility throughout their lives and most especially over the last three decades. Analyzing their discourses, I try to build with interlocutors a dialectic that takes into account both the subjective experience of belonging to a traditionally marginalized group and the socio-historical position they occupy. Various landmarks come into play, such as the end of the military dictatorship and the political openness in Brazil, the moral panics brought on by the emergence of HIV/AIDS epidemic in the mid-1980s and the participation of some in social movements. Subjects of heated debates in the national political scene, I also explore their positions on more recent events such as the emergence of LGBT Pride Parades and the clashes involving the recognition of same-sex unions and the criminalization of homophobic discrimination in the country. At the same time, I question the label "generation" and try to understand the differences they point between themselves and the "younger".
doi:10.11606/t.8.2015.tde-16072015-110942 fatcat:hqimnjlpc5ca7igedefw2vewiu