Mário de Andrade: As enfibraturas do Modernismo

Benedito Nunes
1984 Revista iberoamericana  
Sessenta anos separam-nos da Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de Sao Paulo, sob o patrocinio de figuras de proa da sociedade paulista, e que reuniu o grupo criador de jovens artistas e poetas, sob cuja agio efectivou-se, em estilo revolucionario, o processo de mudanca de gosto estetico, que chamamos de modernismo, catalizado pela renovaio da poesia e da prosa, e que proporcionou a conquista de uma consciencia cultural, decisiva e historicamente
more » ... nte, ainda nos dias de hoje, para a inteligencia brasileira. Na verdade apenas um triduo litero-musical -as noites de 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano, preenchidas com exposicoes de arte nos saguoes do teatro, e com alocug6es e leituras dirigidas a uma plateia arredia, do alto de um palco italiano frequentado pelos astros estrangeiros do Canto Liricoa Semana era a manifestacao piblica e festiva do nosso modernismo, que foi «uma ruptura (...) um abandono de principios e ticnicas consequentes, (...) uma revolta contra o que era a inteligencia nacional 1, como diria, jd em 1942, num retrospecto hist6rico e autobiogrifico do movimento, de que teve um dos postos de lideranga, o escritor Mario de Andrade. A obra de Mario de Andrade seria, desde o comeco, marcada por essa ruptura, consequente a rejeicio modernista tanto da estdtica parnasianonaturalista, estabilizada academicamente entre n6s, quanto de toda uma forma de comportamento social, decoroso e acomodaticio, da nossa intelectualidade.
doi:10.5195/reviberoamer.1984.3861 fatcat:cmg5jgjxqrg5nasvs24wyae6qi