Intolerância linguística e imigração
[thesis]
Alexandre Marcelo Bueno
iv "[...] uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro antes de ser por ele absorvida." Rui Barbosa "É por isso que digo em alto e bom som que uma das soluções para os dilemas da intolerância é o bom uso da linguagem. Alimentei tantos preconceitos a esse respeito, fiz mau uso de uma língua, para me separar dos outros e excluir de minha vida aqueles que não falavam da mesma maneira que eu. Compreendo o motivo pelo qual se pode chegar a suprimir
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... por causa do jeito diferente de organizar o mundo, porque, quando criança, quando rapaz, vivi esse medo da diferença. Temi por minha identidade e, confrontado com uma outra língua e uma outra cultura, aboli, durante toda minha infância e adolescência, esse outro modo de vida que havia em mim" Ariel Dorfman v DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado aos meus pais, Ary Bueno (in memoriam) e Lúcia Fukumaro Bueno, exemplos de força e de integridade que carregarei por toda vida. Aos meus avós maternos (in memorian), Sakae Fukumaru e Tsuyako Shimizu Fukumaru, que, como milhares de outras pessoas, empreenderam a "aventura" de deixar suas famílias e seu país de origem para atravessar o mundo e começar uma nova vida em outro país. vi AGRADECIMENTOS A atividade de pesquisa, principalmente na chamada ciências humanas, parece ser, em princípio, solitária (com a companhia, no máximo, do orientador). Contudo, no momento de escrever estas linhas, essa verdade inicial se desfaz quando recordo das pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Gostaria de agradecer, inicialmente, aos professores do Departamento de Lingüística da USP, principalmente aos Profs. José Luiz Fiorin e Luiz Tatit por, mesmo sem saberem, terem despertado em mim o interesse pela Lingüística e pela Semiótica. Agradeço também aos professores que ministraram os cursos na pósgraduação de que participei, sem os quais certamente este trabalho teria muito mais falhas: Antonio Vicente Serafim Pietroforte, Norma Discini e Hélder Games. Devo agradecer também as professoras Margarida Petter e Marli Quadros não apenas pelas críticas e sugestões apresentadas na qualificação realizada em setembro de 2005, mas também pela gentileza e pela educação com que me trataram durante a argüição. Agradeço ao Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (LEI-USP) e, principalmente, aos professores e pesquisadores do grupo "Intolerância e Preconceito Lingüísticos", no qual insere-se este trabalho. E não posso esquecer dos colegas que me acompanharam nessa árdua empreitada que é a pós-graduação: recordo principalmente da Camila Kintzel, cuja amizade iniciou-se nos tempos da graduação e que felizmente perdura na pós-graduação. Este trabalho não teria se concretizado sem a participação dos funcionários das bibliotecas que, com competência e atenção, me auxiliaram na busca dos textos analisados neste trabalho. As bibliotecas em que realizei minha pesquisa foram: a da Faculdade de Direito (FD-USP), a da Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP), a do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), a da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCHvii USP), a do Memorial do Imigrante e a do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Evidentemente, a vida não se limita ao ambiente acadêmico. Por isso, não posso deixar de agradecer aos poucos, mas grandes e fiéis, amigos: Ricardo, Demétrios, Rosemberg (amigos de longa data...) e ao Hemerson Siqueira, grande amigo da graduação que sempre me apoiou, principalmente nos momentos de dúvidas em relação a este trabalho. Agradeço aos amigos e professores da Disciplina de Nefrologia da UNIFESP-EPM que sempre apoiaram meu desejo de fazer pós-graduação. Preciso agradecer principalmente ao Pablo e à Patrícia, colegas de trabalho, por tolerarem minhas "escapadas" fora de horário para poder escrever esta dissertação. Agradeço aos meus irmãos por tudo que fizeram por mim (eles sabem do que estou falando). Se hoje eu termino mais uma etapa de minha vida, é porque eu recebi, sendo o irmão mais novo, boas influências deles em muitos aspectos. Por fim, gostaria de externar minha gratidão à professora Diana Luz Pessoa de Barros. Seu exemplo de professora e intelectual é, para mim, a grande lição que eu carrego desse período de pós-graduação. Não tenho dúvidas em afirmar que se este trabalho tem algum valor, ele decorre de sua generosa e paciente orientação. Quanto aos erros e aos equívocos, são todos de minha inteira responsabilidade. ix ABSTRACT The XIX and XX centuries had been characterized for a great influx of immigrants to America, mainly from Europe. In this historical context, the interaction among the State, the local society and the immigrants passed through different tensions that involved different types of prejudice and intolerance (racial, social, linguistic, cultural, economic etc.). The prejudice and the intolerance have a double dimension: private and public, present in national States, society, groups and peoples. Our work aimed to analyze the phenomenon of the linguistic intolerance in the relation among Brazilian society, State and immigrants. For the constitution of our corpus, we selected the period between 1875 and 1945, or either, the end of the Monarchy until the Vargas' Era. To analyze the linguistic intolerance in its two dimensions, private and public, we divided our work in two distinct chapters: in the first one, we examined the laws that organized the immigration and the naturalization processes of foreigners; and in the other chapter, three texts of representative authors of the society in the Monarchy (Menezes e Souza), the First Republic (Sílvio Romero) and the Vargas' Era (Oliveira Viana) were analyzed. We also analyzed in this chapter, reports from immigrants and one autobiography to show the perspective from those who had suffered the intolerance. To make these analyses, we used the French's discursive semiotics. In this theoretical perspective, we considered the prejudice as a way of to be passionate (to be malevolence) in relation to the other and the intolerance (and also the linguistic intolerance) as one to make malevolence (to make badly to the other), that presuppose the prejudice. The certainty of the intolerants about theirs values (the values of the intolerants are better than of the others) is the responsible for the accomplishment of this to action, using different strategies. Therefore, it is possible to think the language as an element of prejudice and intolerance, not only for being involved in the construction of the negative image of immigrants, but also for being an element of immigrant's exclusion or assimilation by the Brazilian society and the State.
doi:10.11606/d.8.2006.tde-31072007-143055
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