Abrigos poéticos

Ana Maria Rodriguez Costas
2011 Sala Preta  
o corpo é o que multiplica a alma, lhe oferece uma geografia, uma geologia, uma topologia". (José Gil) Apresentação Nesse artigo pretendo compartilhar algumas reflexões nascidas em um contínuo processo de pesquisa dedicado as relações entre a dança e as abordagens somáticas 2 . Tal investigação foi aprofundada e sistematizada em meu doutorado (2010), período em que ampliei o estudo dialogando com a poética da artista Lygia Clark 3 (1920-1988). Mais especificamente, intento abarcar aqui certas
more » ... ções de corpo, espaço e tempo, que surgiram das fricções artístico-pedagógicas, num contexto específico, o Ateliê Somático em Dança, disciplina destinada a trabalhar com a ampliação de poten-1 Artista da dança, educadora somática, Socióloga (FFLCH/USP), mestre em Artes (IA/UNICAMP) e doutora em Educação (FE/UNICAMP). É professora titular do Curso de Dança da Universidade Anhembi Morumbi. Presta consultorias a projetos de formação profissional e educação continuada para artistas e professores de dança. 2 São inúmeros os métodos e as escolas que compreendem a educação somática, dentre os quais destaco: a Alexander Technique de Mathias Alexander (1869-1955); a Eutonia de Gerda Alexander; o Método Feldenkrais de Moshe (1943-); e, no Brasil, a pesquisa de Klauss Vianna (1928-1992) e sua parceira Angel Vianna (1928-). Cada uma dessas vertentes apresenta singularidades quanto aos seus fundamentos, princípios, objetivos e procedimentos. A escolha do termo abordagens somáticas, além de revelar tal diversidade, evidencia que o caráter de minhas investigações não se refere exatamente a aplicação de um método específico, mas, essencialmente, a uma maneira somática de abordar o corpo dançante. 3 Nascida em Belo Horizonte, Lygia Clark inicialmente percorreu uma trajetória como pintora e escultora. Foi signatária do manifesto Neoconcreto em 1959 e, já na década seguinte, com a série Bichos, realiza construções metálicas geométricas articuladas por meio de dobradiças que requerem a coparticipação do espectador. A partir dos anos 1960, dirige-se à poética do corpo, formulando proposições sensoriais. Esse período é demarcado por diferentes fases de experimentações as quais desembocam na Estruturação do Self, última etapa de investigação artística e terapêutica. Clark desenvolveu parte de sua obra com seus alunos de arte na Sorbonne, em Paris, onde atuou e residiu entre 1970 e 1976. Retornou para o Brasil nesse ano, dedicando-se então ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais.
doi:10.11606/issn.2238-3867.v11i1p2-16 fatcat:2osfnql2qracrbdkdzyh2swcpi