RUMO AO X SIMPURB
Ana Fani Alessandri Carlos, Arlete Moisés Rodrigues
2006
GEOUSP: Espaço e Tempo
A geografia vive uma crise, poucos duvidam deste fato. Os sinais são vários: o preconceito contra o pensamento teórico, a recusa da crítica como fundante na construção do conhecimento, a naturalização das relações sociais trazendo como consequência o esvaziamento da história. Como consequência, a realidade destituida de sua historicidade reduz o espaço geográfico ao seu quadro físico. Podemos, também, identificar uma crise ética como decorrência do fato de que, aos poucos, mas inexoravelmente,
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... universidade vem sendo invadida pelo tempo veloz da produtividade que repercute diretamente nas pesquisas cientificas e, consequentemente no processo de produção e sentido do conhecimento alí produzido. Trata-se cada vez mais produzir textos, seminários, eventos, não necessariamente conhecimento e debate. Ciosos da necessidade sempre acrescentada, de incrementar currículos, aumenta, cada vez mais o número daqueles que não conseguindo fugir à tentação adicionam seus nomes àqueles de seus orientandos na apresentação de artigos fundados em suas teses individuais confundindo-se orientação com co-autoria. E assim, um mesmo trabalho pode ser computado triplamente no currículo de orientador -no item orientação, no item participação em eventos (mesmo que ele não tenha participado do evento), e repetido no item "produção científica". Imersos nesta lógica, é cada vez mais freqüente o número de pesquisadores que apresentam dois ou mais trabalhos num único evento; também é sintomático o aumento do número de autores assinando um mesmo trabalho 1 . Com isso os currículos vão ganhando tamanho, não necessariamente, conteúdo. Mas não é só isso. Os programas de pós-graduação, submetidos aos avaliadores da CAPES, parecem "entrar numa competição" ensandecida para incrementar numericamente seus relatórios visando o aumento das notas de seus programas. É assim que a proliferação dos eventos -sem debates, apenas como vitrine para apresentação de trabalhos parecem ganhar a todos. Um novo formato de evento se impõe: um excesso de mesas redondas, mesas de comunicação, simultâneas, salas abarrotadas de painéis, etc. (os mesmos autores, com textos semelhantes, aparecem em mais de uma atividade, painéis, mesas redondas, comunicações coordenadas). Entre os presentes "um corre corre" atraz das atrações. Uma imagem de excesso revela o "conhecimento pós-moderno"fragmentado e repetitivo, para não dizer "espetacular". O cenário acadêmico modificou-se profundamente, a "nova universidade" impõe-se pelos padrões da produtividadeimerso no "produtivismo", a velocidade do tempo da chamada pós-modernidade, impõese sobre o tempo lento da reflexão.
doi:10.11606/issn.2179-0892.geousp.2006.73999
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