Utopia higienista argentina
Beatriz Teixeira Weber
2010
História, Ciências, Saúde: Manguinhos
N o Brasil ainda conhecemos pouco da produção no campo da história da saúde que se realiza na Argentina. O autor Alejandro Kohl é médico psiquiatra que se dispôs a refletir sobre história e antropologia sanitárias, como ele denomina sua área de investigação. O livro Higienismo argentino é um de seus primeiros trabalhos publicados e tem como proposta uma análise do imaginário social vinculado à saúde, com base no que ele chama de utopia sanitária ao longo da história argentina, desde a década de
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... 1870 até a de 1950. O marco utilizado pelo autor para o surgimento da utopia em relação à saúde é 1874, como resultado do desafio representado pelas diversas epidemias sofridas pela Argentina nos anos anteriores, em especial a de febre amarela, em 1871. A análise se encerra com o afastamento de Ramón Carrillo da vida pública. Carrillo foi um médico de orientação liberal que atuou como referência orientadora na proposta de utopia do higienismo, graças à oportunidade que lhe ofereceu o presidente Juan Perón. O autor define utopia como a configuração imaginária de uma sociedade inexistente, convertida em ideia de futuro, em referência orientadora da práxis de múltiplas manifestações culturais. As várias lideranças políticas argentinas e seus representantes no campo da análise sanitária construíram discursos com perspectiva utópica, quando a realidade em que viviam não oferecia alternativas; daí definirem um discurso representativo, com imagens poéticas visando ao desejo de ser daquela sociedade, através de suas lideranças. Kohl entende o termo poética como teoria da produção de discursos, com o intento de resgate da imaginação de formas de reducionismo que menosprezariam o aspecto fundante do discurso. Segundo o autor, utopia remeteria à ideia de um lugar inexistente, ao passo que outro conceito, o de ideologia, procuraria legitimar as circunstâncias existentes. Pensar o discurso como fundador da proposta higienista reflete preocupação com a organização original dessa proposta, como ideário que dá sentido inicial, que constitui o próprio campo de análise e posterior discussão É o discurso que dá sentido às políticas que seriam referendadas adiante. O autor procura dar visibilidade a um campo tido como KOHL, Alejandro. Higienismo argentino: historia de una utopíala salud en el imaginário colectivo de una época. Buenos Aires: Editorial Dunken. 2006. 176p.
doi:10.1590/s0104-59702010000300016
pmid:21461543
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