Educação, infância e nacionalismo: uma abordagem a partir das cartilhas escolares "Getúlio Vargas para crianças" e "Getúlio Vargas: o amigo das crianças"

Zenaide Inês Schmitz, Miguel Ângelo Silva da Costa
2017 Revista Linhas  
Educação, infância e nacionalismo: uma abordagem a partir das cartilhas escolares "Getúlio Vargas para crianças" e "Getúlio Vargas: o amigo das crianças" Resumo O presente artigo discute as cartilhas escolares como fontes de leitura e de difusão do nacionalismo no contexto do Estado Novo, assim como a concepção de educação e de infância que delas pode emergir. Para dar conta desse objetivo, duas cartilhas são selecionadas: "Getúlio Vargas para crianças" (1942) e "Getúlio Vargas, amigo das
more » ... as" (1940). A abordagem teórica e conceitual sobre o tema se ancora no horizonte teórico oferecido por Roger Chartier, sobretudo no que diz respeito às noções complementares de "representações" e "práticas" sociais. A análise realizada permite inferir que as cartilhas escolares refletem facetas significativas da relação entre nacionalismo e educação no período. De modo específico, revelam aspectos de um projeto político dedicado a difundir no imaginário infantil, princípios básicos da mentalidade que deu suporte ideológico ao regime varguista: autoridade, hierarquia, ordem e patriotismo. Palavras-chave: Cartilhas Escolares. Infância. Estado Novo. História da Educação. Abstract The following paper aims to discuss the use of scholar booklets as source of reading and diffusion of nationalism in the context of the New State configuration, as well as the conceptions of education and childhood that can emerge from them. In order to fulfill this objective two booklets were selected: Getúlio Vargas for children (1942) and Getúlio Vargas: the friend of the children (1940). The theoretical approach is based on the conceptual horizon offered by Roger Chartier, above all in relation to the complementary notions of "social representation" and "social practices". The results of the analysis imply that the scholar booklets reflect meaningful details of the relation between nationalism and education in this period of time. They specifically reveal aspects of a political project dedicated to spread in in the collective imaginary of children, basic principles of the mindset that supported Vargas regime, such as authority, hierarchy, order and patriotism. Linhas Primeiras palavras Aos 10 dias de novembro de 1937, na esteira da crise de 1929 e sob os efeitos dos desajustes econômicos, políticos e sociais com os quais a sociedade brasileira convivia, Getúlio Dorneles Vargas, em pronunciamento à nação, deu início ao regime que ficou conhecido na história política brasileira como Estado Novo . A partir de então, um amplo e poderoso aparato propagandístico emergiu articulado ao monopólio simbólico emanado do Estado. Criado, por decreto presidencial em 1939 e vinculado à presidência da República, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), por meio de propaganda política e sofisticada produção editorial, encarregou-se de difundir na opinião pública os princípios da autoridade, hierarquia, ordem e patriotismo. Vale mencionar, princípios básicos da mentalidade que deu suporte ideológico ao regime implantado em 1937. Entre os distintos campos/ suportes de produção, difusão e legitimação do ideário nacionalista, as cartilhas escolares emergem não apenas articuladas à política de escolarização primária, mas, também, ao projeto político mais amplo emanado do Estado. Inscrito, portanto, no campo temático da História da Educação e, a partir da relação entre Educação e Nacionalismo, o propósito deste artigo consiste em colocar em tela o papel das cartilhas escolares enquanto fontes de leitura e de difusão do ideário nacionalista no contexto do Estado Novo, assim como a concepção de educação e de infância que delas pode emergir. Em diálogo com o horizonte teórico oferecido por Roger Chartier (1990), sobretudo no que diz respeito às noções complementares de "representações" e "práticas" sociais, o trabalho concentra-se em duas fontes específicas: as cartilhas "Getúlio Vargas para Crianças" e "Getúlio Vargas: o amigo das crianças"; a primeira de autoria de Alfredo Barroso (1942) e a segunda possivelmente produzida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1940.
doi:10.5965/1984723818362017377 fatcat:mjypionp3fgwrcjdgkjuh5gqze