Autorias do fracasso: uma comparação entre >i/i<, de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, e >i/i<, de Mungo Park
[thesis]
Mariana Hetti Gomes
As trajetórias pelas quais caminhei para chegar até esse final somente aparecem nas entrelinhas desse trabalho. Explicito, brevemente, alguns nomes a quem devo muito dos meus passos. Presente desde antes de que essa ideia se desenvolvesse está Pablo Fernando Gasparini, orientador da presente dissertação. Devo agradecer antes de tudo pela sua cativante docência, que me levou a centrar-me nesse campo de estudos. Agradeço por acreditar que eu pudesse desenvolver um bom trabalho, pelas motivações
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... ntínuas e indagações sempre precisas. Nossos diálogos extremamente construtivos, dos quais eu sempre saía cheia de ideias, sempre me deixaram com ainda mais animação para seguir produzindo. Também agradeço que, em meio a esses anos turbulentos, tenha ainda tido atenção, disponibilidade, compreensão. Tomo espaço para agradecer a Bruno Verneck, meu colega e amigo. Que fortuito e produtivo que os nossos caminhos acadêmicos se cruzassem. Obrigada pela troca de bibliografias, de perspectivas; pelas discussões e pelas produções conjuntas; pela amizade. Pelas leituras, críticas, e por muito além de tudo isso agradeço a minha mãe, Patrícia. Agradeço por ter lido, corrigido e discutido comigo cada uma das partes dessa dissertação. Quero também registrar a importância das inúmeras conversas mais acadêmicas, as quais traço desde a infância. Se eu tive todas as condições para desenvolver um bom trabalho, devo isso a ela. Agradeço ao meu pai, André, que também me deu todo o suporte para poder seguir a carreira acadêmica. Saliento os vários conselhos incisivos e preciosos ao longo da minha formação escolar e acadêmica, determinantes para chegar aonde estou e para seguir além. Obrigada pela formação cultural à qual me expôs: carrego-a comigo onde quer que esteja. Devo reservar um parágrafo aos meus preciosos amigos de São Paulo. Gabriel, meu amigo de longa data e meu iniciador na Letras USP. Meus passos foram guiados pelos seus nas primeiras semanas de exploração da academia: se escrevo essa dissertação é por ter me sentido tão bem acolhida nesse tenro início. À Marina devo agradecer o carinho, a mentoria pelo mundo francófono, a troca de ideias que me acrescenta e está plasmada nessas páginas. A Luca sou grata por ler o que escrevo, o que ainda não escrevi e o que nunca vou escrever. Por instigar, por abrir-me a outras áreas do conhecimento. Pela admiração mútua que carregamos como leveza. Devo alongar-me também em agradecimentos a algumas pessoas da Espanha: minha família política, meus sogros, Ángel e Isabel, e a Jesús. Vuestro acogimiento fue esencial para el desarrollo de este trabajo. Gracias por hacerme sentir bienvenida. A Mich, meu namorado e marido, agradeço primeiro por ter lido e relido os capítulos da dissertação e por el incidental intercâmbio cultural. Mas principalmente por estar nas más pequeñas e irrelevantes coisas. Pelo suporte do dia-a-dia, tão inaudito, mas de um valor inestimável. Pelo abrigo, pelo cuidado. Por expandir o meu mundo. Finalmente, agradeço ao Departamento de Letras Modernas pelo suporte institucional, pela prontidão em ajudar e por possibilitarem o desenvolvimento dessas pesquisas. Estendo o agradecimento à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com a qual tenho não só um vínculo enquanto instituição, mas pela qual tenho um carinho imenso. À CAPES, claro, que me concedeu a bolsa, agência de fomento cuja importância para o desenvolvimento de pesquisa no Brasil e para o conhecimento é simplesmente incalculável. Espero que o trabalho esteja à altura dessas instituições, pelas quais se deve sempre lutar. RESUMO Esta dissertação propõe uma comparação de dois relatos de viagens fracassadas: Naufragios, de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, e Travels in the interior districts of Africa, de Mungo Park. Distantes mais de duzentos anos em suas produções, ao serem interceptados pela pergunta sobre como se tornaram consagrados no cânone expansionista apesar do insucesso de suas expedições, aproximam-se em publicações do século XVIII. Naufragios, adaptado ao ser inserido como parte da coletânea Historiadores Primitivos de las Indias Occidentales (1749), é incorporado no discurso apologético da colonização espanhola da América. Travels, publicado pela primeira vez em 1799, tem êxito instantâneo e anima a exploração britânica do interior da África. Como fundamentação, o trabalho recupera a categoria de autoria do século XVIII, comportando uma cadeia de produção mais além dos escritores, e refere-se ao conceito de apropriação da história cultural de Chartier. Incluídas na produção ou materialmente nos livros, autoridades e instituições ajudam a legitimar essas publicações. Fica evidente que essas publicações setencentistas têm relação com uma disputa sobre quais são as formas legítimas para a história e para os relatos de viagem, e a investigação então contorna a ligação dos livros com concepções concorrentes sobre verdade. A partir de análises formais das narrativas e da leitura de Shapin sobre confiança como civilidade, a verdade aparece como uma categoria em disputa: de um lado, a retórica; de outro, o empirismo científico. Tal conflito tem relação com uma mudança do eixo de poder da península ibérica para o norte da Europa ao longo do Iluminismo. Por fim, passa-se à grande temática dos relatos de viagem, os deslocamentos, e suas formalizações em cada um desses dois textos. A fim de analisar a exposição de seus processos de composição textual, o estudo se centra no Naufragios de 1555 e segue no Travels de 1799. A análise aponta a centralidade do retorno ao território inicial nessas narrativas fracassadas, as quais insistem na sobrevivência em função de poder relatar, provando que, apesar dos insucessos, sempre estão a serviço de seus respectivos reinos. Ademais, através da concepção de Haesbaert de espaço e território, a volta traça um itinerário civilizatório. Servem, portanto, politicamente aos interesses da Espanha e da Grã-Bretanha e inserem-se em um circuito de legitimação. A reflexão final, no entanto, salienta que embora tenham se consagrado devido à sua aderência a um discurso oficial, mantêm-se no cânone pelas contradições internas às formalizações desses relatosas quais os permitem serem apropriados e reapropriados por diferentes autorias.
doi:10.11606/d.8.2022.tde-04102022-191050
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