CULTURA, PATRIMÔNIO IMATERIAL E SEDUÇÃO NO ARRAIAL DO PAVULAGEM, BELÉM (PA), BRASIL
Dula Maria Bento de Lima, Estélio Gomberg
2012
Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares
Em 1987, motivados não apenas por valorizar e divulgar a música de raízes amazônicas, mas fundamentalmente por estabelecer uma forma de aproximação da banda Arraial do Pavulagem com o público, os músicos da formação inicial do grupo passaram a levar, aos domingos, a alegoria de um boizinho na tala 1 para o centro de um palco improvisado na frente do Teatro Waldemar Henrique, na Praça da República, em Belém. Lá, quando a curiosidade juntava o público, eles tocavam e cantavam em show aberto a
more »
... desejasse assistir. Dessa forma nasceu o embrião dos hoje famosos Arrastões do Pavulagem. A resposta à iniciativa foi muito maior do que eles pretenderam. Toda tarde de domingo a praça ficava apinhada de espectadores para ouvir e dançar ao som da banda. Ronaldo Silva, um dos músicos, sentiu a necessidade de aprofundar o trabalho deles, e começou a incursionar pelos interiores do Pará pesquisando música de raiz, sons, ritmos, confecção de instrumentos próprios de determinados contextos, como, por exemplo, o carimbó. Com o tempo, juntaram-se bailarinos que investigaram as coreografias de ritmos pararenses − carimbó, siriá, lundu, xote marajoara, retumbão, samba do cacete, entre outros. Em processo etnográfico, registravam, aprendiam. O movimento foi tomando vulto, e os shows das tardes de domingo evoluíram para o Arrastão Junino, realizado nos quatro domingos do mês de junho, revitalizando a roda de boi. No primeiro domingo, o cortejo chega pelo rio. Um barco tradicional da região sai do trapiche da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor, e navega pela orla da cidade pela Baía do Guajará, trazendo, além do boi Pavulagem − já não mais um boi de tala, mas um boi-bumbá tradicional −, o mastro de são João, que é levado em cortejo da Escadinha do Cais do Porto até a Praça da República, onde é fincado, dando início à quadra junina (figuras 1 a 3). Nos demais domingos o cortejo se repete, com o Batalhão da Estrela (banda integrada pelos músicos formados pelo Arraial do Pavulagem), os integrantes fiéis do movimento, e milhares de simpatizantes que muito agregam ao evento. Cerca de 26 mil pessoas acompanham cada arrastão, subindo a Avenida Presidente Vargas até o cruzamento com a Rua Osvaldo Cruz. Num carro de som que vai à frente, um animador vai contextualizando os elementos presentes naquele universo. Na sequência, alas de brincantes que se organizam espontanemente em ordem de chegada: os cavalinhos e boizinhos que as crianças assumem; os estandartes dos santos empunhados geralmente pelas senhoras mais velhas do grupo, os brincantes, os músicos, os bois -Pavulagem, Malhadinho, Urube e outros convidados (quase sempre os tradicionais dos bairros de Belém), os
doi:10.12957/tecap.2012.10260
fatcat:dbjaeixpanbldgwq4bcdhxzij4