P: PORTUGUESE CULTURAL STUDIES 4 Fall 2012 Obras Citadas

Benedict Anderson
1999 Impresso. Wallerstein, Immanuel. World   unpublished
A aplicação de ferramentas teóricas forjadas no âmbito de estudos pós-coloniais pode parecer surpreendente, visto que estes conceitos e categorias são alheios ao horizonte epistemológico do escritor em causa. No entanto, é nossa convicção que esta a abordagem é adequada para compreender plenamente a visão da cultura brasileira que Mário de Andrade projeta nas suas obras, em geral, e no Turista Aprendiz, em particular. O escritor, como demonstraremos ao longo da análise do diário, acredita que a
more » ... identidade cultural brasileira é composta por várias e muito distintas expressões étnicas e regionais, frequentemente menosprezadas ou até desconhecidas pelas elites intelectuais do seu tempo. Na sua busca da identidade brasileira, o turista aprendiz recupera as vozes silenciosas, e silenciadas, dos cantadores nordestinos que improvisam os cocos, dos índios que recontam os seus mitos, dos mestres do candomblé que invocam os seus santos com danças dramáticas. Neste processo, o autor não apenas inverte as hierarquias tradicionalmente estabelecidas entre o centro e a periferia, entre o nacional e o local, entre a arte erudita e popular, mas de facto constrói uma nova visão da cultura brasileira onde procura "redefinir o processo simbólico através do qual o imaginário social [...] se torna o sujeito do discurso e o objeto da identidade psíquica" (Bhabha 2005a 217). De acordo com João Luís Lafetá, as primeiras produções dos modernistas brasileiros e, entre elas, o livro de poesia o Clã do Jabuti do próprio Mário, foram profundamente marcadas pela exaltação da cultura popular e pela busca de ser "brasileiro" "que levava o poeta a exagerar a linguagem, que assim perdia, de novo, a naturalidade e a sutileza" (Lafetá 105). No entanto, como comentam Lafetá e mais tarde Maria Aparecida Silva Ribeiro (20-21), Mário de Andrade rapidamente se apercebe que o imperativo folclorizante é limitador e empobrecedor. Assim, na abertura do Ensaio sobre a Música Brasileira, publicado apenas uns meses depois do Clã do Jabuti, o artista (e musicólogo) redime-se parante os seus leitores: Nós, modernos, manifestamos dois defeitos grandes: bastante ignorancia e leviandade sistematizada. É comum entre nós a rasteira derrubando da jangada nacional não só as obras e autores passados como até os que atualmente empregam a P: PORTUGUESE CULTURAL STUDIES 4 Fall 2012
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