O DEBATE DE GÊNERO E O ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA: ANÁLISE DOS TRABALHOS PUBLICADOS NO ENPEC ENTRE OS ANOS DE 2011 E 2019

MARIANA NO XAVIER, LUCICLEIDE DE BRITO SOUZA, VIVIANE BORGES DIAS
2020 Anais do XIV Colóquio Internacional "Educação e Contemporaneidade" (EDUCON)   unpublished
Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 5, p. 1-20, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/ Resumo O artigo objetiva analisar as tendências das pesquisas que relacionam gênero e ensino de Ciências e Biologia. Para tanto, foram mapeados os trabalhos publicados nas atas de cinco edições do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). A pesquisa tem abordagem qualitativa, do tipo revisão bibliográfica. Os resultados apontam que o tema vem sendo discutido de maneira
more » ... piente tanto na educação básica, quanto nos cursos de formação de professoras/es. Nesse sentido, identificamos uma lacuna no que tange a abordagem da temática no evento pesquisado, o que indica a necessidade de uma maior discussão em todos os níveis e modalidades da educação, bem como em eventos da área, para que possamos possibilitar um debate que problematize e busque a superação das desigualdades de gênero. Abstract The article aims to analyze the trends on researches that relate gender and Science and Biology teaching. Therefore, the works published on the minutes of five editions of the Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) were mapped. The research type is bibliographic review and it has a qualitative approach. The results indicate that the topic has been discussed in an incipient way both in basic education and teacher training courses. In this sense, we identified a gap regarding the approach of the theme on the searched event, which indicates the need for a greater discussion at all levels and modalities of education, as well as on events of the area, so that we can enable a discussion that problematizes and seek to overcome gender inequalities. Resumen El artículo tiene como objetivo analizar las tendencias de las investigaciones que relacionan género y la enseñanza de las Ciencias y Biología. Por lo tanto, se mapearon los trabajos publicados en las minutas de cinco ediciones del Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). La pesquisa tiene un enfoque cualitativo, del tipo revisión bibliográfica. Los resultados apuntan que el tema ha sido discutido de manera incipiente tanto en la educación básica como en los cursos de capacitación docente. En este sentido, identificamos una laguna con respecto al enfoque del tema en el evento investigado, lo que indica la necesidad de una mayor discusión en todos los niveles y modalidades de educación, así como en los eventos del área, para que podamos hacer posible un debate que problematiza y busca superar las desigualdades de género. Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 5, p. 2-20, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/ INTRODUÇÃO A desigualdade social pode ser entendida como qualquer forma de concentração de poder, seja ele econômico, político ou cultural. A violência é uma das consequências dessas desigualdades, o que torna pessoas desfavorecidas ainda mais vulneráveis diante dos mais privilegiados. Com isso, as diferenças são mantidas, fazendo com que indivíduos desprivilegiados não desenvolvam suas capacidades como realmente poderiam, dificultando sua ascensão social. Para entender e combater a desigualdade social, também é preciso considerar as questões relacionadas à diferenciação de atividades, oportunidades e responsabilidades, ditadas pelo conceito de gênero. Segundo Schmitt (2016), nesse sistema social chamado patriarcado, os homens detêm o poder predominando em funções de lideranças políticas, autoritárias, privilégio social e controle de propriedades. Enquanto que os afazeres domésticos, a dedicação matrimonial e maternal, são de responsabilidade da mulher, que deixa de lado muitos de seus cuidados pessoais. É comum que a mulher se sinta mercadoria, já que as exigências perante ela são maiores e a valorização e o respeito da sociedade à mulher continuam limitados (SCHMITT, 2016). Essa diferenciação entre os sexos é a causa de tantos problemas que conhecemos, tais como a violência doméstica e o feminicídio. No Atlas da Violência (IPEA, 2019), é possível verificar um amento de 30,7% no número de homicídios de mulheres no Brasil, entre os anos de 2007 a 2017. A maior parte dessas mortes ocorrem dentro das residências, por conhecidos ou íntimos das vítimas, sendo eles majoritariamente homens, o que demonstra a dominância masculina. Sendo essas situações caóticas tão determinadas pelo gênero, é iminente a necessidade de se debater cada vez mais sobre este tema. Nesse sentido, é preciso que o tema esteja também presente no cotidiano da escola e da universidade, pois falar sobre gênero vai além da discussão sobre "ser homem" e "ser mulher". É também debater sobre essas desigualdades, com a finalidade de encontrar medidas apropriadas para combatê-las. Para Gatti (2010), não há consistência em uma profissionalização sem a constituição de uma base sólida de conhecimentos e formas de ação. Desse modo, é preciso que o/a professor/a esteja em constante formação, produzindo e refletindo sobre diferentes questões, para então possuir condições de lidar com debates tão complexos. Assim, será possível construir soluções e difundi-las através da mobilização de recursos cognitivos e afetivos, ligados à profissão docente, a favor de uma maior regularidade nos discursos sobre temas socialmente relevantes. Convém destacar que em 2013, a Base Nacional Comum Curricular -BNCC começou a ser debatida. Esse debate representou um grande retrocesso para a temática de gênero. Sua idealização não conta com a inclusão deste tema, que é de grande importância no combate às discriminações, em respeito aos direitos humanos e a favor de uma sociedade mais justa e menos desigual. É fundamental que todas/os envolvidas/os no processo educativo façam essa discussão, problematizando as questões que colocam a mulher no centro de diversas formas de violência. Estudos como os de Senkevics e Polidoro (2012) revelam a importância do entendimento de gênero em seu viés político: Adquirindo tal olhar, torna-se ainda mais inaceitável sustentar o determinismo biológico ou qualquer outro pensamento das ciências biológicas que, a seu modo, reproduza posturas discriminatórias. Ao se tomar o corpo, o sexo e o gênero a partir de uma perspectiva interdisciplinar, sua faceta sociocultural traz, inevitavelmente, uma dimensão política (SENKEVICS e POLIDORO, 2012, p. 20) Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 5, p. 3-20, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
doi:10.29380/2020.14.05.14 fatcat:5p3oniliivhsvfda2ki7i5v6ee